Quando se assinala o 20º aniversário do colapso da União Soviética,uma oportunidade para uma análise da política externa levada a cabo por Mikhail Gorbachev, o último presidente da URSS.
Mikhail Gorbachev assumiu a presidência da União Soviética no início do ano de 1985, representando a mais jovem geração da liderança do seu país. Thomas Pickering foi embaixador dos EUA em Moscovo e recorda um episódio envolvendo Gorbachev:“Há a famosa visita da primeira-ministro britânica Maggie Thatcher que teve lugar rapidamente e, na sequência da qual, aparentemente, ela terá informado o presidente Reagan nos seguintes termos: Este é um homem com o qual podemos negociar.”
Analistas afirmam que Gorbachev compreendeu que a União Soviética não poderia continuar a usar o seu poderio militar para aumentar a sua influência no Mundo. Chegou à conclusão que os militares deveriam retirar-se de algumas áreas.Uma dessa áreas foi o Afeganistão, onde as tropas soviéticas estavam a combater as forças guerrilheira dos mujahedeen, desde Dezembro de 1979.
O embaixador Pickering afirma que a decisão de Gorbachev de retirar aquelas tropas enviou ao mundo a mensagem de que a União Soviética falhara aquela missão:“Penso que também nos indicou - ou que nos deveria ter indicado – que as soluções militares para problemas nem sempre funcionam da forma como quereríamos”.
O último soldado soviético saiu do Afeganistão a 15 de Fevereiro de 1989.Analistas afirmam que a política externa de Gorbachev teve também efeitos espectaculares na Europa de Leste, onde os povos clamavam pelo fim do regime dos partidos comunistas. Gorbachev tornou claro que não iria intervir militarmente para travar as exigências de independência nacional por parte de países do Leste.
O Muro de Berlim caiu em Novembro de 1989, em larga medida, devido à política não-intervencionista de Gorbachev. Na opinião do embaixador Pickering, os acontecimentos na Europa de Leste tiveram outras consequências:“E foi notável a forma como esses acontecimentos chegou às portas da própria União Soviética, ajudando, com efeito, a libertar as 15 repúblicas integradas, o que estavam, de uma maneira ou doutra, prontas a separarem-se.”
Em Outubro de 1990, Gorbachev recebeu o Prémio Nobel da Paz. Um ano e dois meses depois demitiu-se do cargo de presidente da União Soviética, vítima das próprias forças que ele havia libertado, mas que não conseguiu controlar.
Um antigo conselheiro de Segurança Nacional junto da Casa Branca,o general Brent Scowcroft, afirma que a herança de Gorbachev foi o desaparecimento da URSS:“Se fosse outro tipo de pessoa, se fosse outro Leonid Brejnev, o sistema poderia ter sobrevivido algum tempo mais. Penso que, eventualmente, teria entrado em colapso, mas não tinha que entrar em colapso quando entrou.”
A ironia é que Gorbachev é frequentemente criticado por ter acabado com o comunismo no seu país, mas é visto no Ocidente como um herói.
“Se fosse outro tipo de pessoa, se fosse outro Leonid Brejnev, o sistema poderia ter sobrevivido algum tempo mais"