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UNITA e FNLA continuam sem património confiscado pelo Governo, apesar de 21 anos de paz


Holden Roberto, presidente da FNLA, Agostinho Neto, presidente do MPLA, e Jonas Savimbi, presidente da UNITA
Holden Roberto, presidente da FNLA, Agostinho Neto, presidente do MPLA, e Jonas Savimbi, presidente da UNITA

Vinte e um anos passaram-se desde o fim de guerra civil em Angola mas o processo de reconciliação nacional tem pontos pendentes.

Um deles tem a ver com o património de alguns dos então movimentos de libertação, hoje transformados em partidos políticos.

A UNITA e a FNLA continuam atrás do que dizem pertencer-lhes, como centenas de imóveis confiscados em 1975 e que querem reaver mas o processo não é fácil.

Ernesto Mulato pertence à chamada "reserva moral" da UNITA e diz que há uma infinidade de imóveis adquiridos pelo seu partido durante o período de guerra, mas após a independência em 1975.

"Eu insisto que a responsabilidade é de quem governa porque ele é que está lá no poder, deve ser mais humilde e deve congregar todos, o que não está a acontecer, os planos existentes é de que eu que mando, eu sou dono de tudo e quem não se revê, não serve, é traidor, é tudo e mais alguma coisa, existem acordos assinados, há promessas sobre isto, mas ninguém liga, ninguém cumpre, há uma canseira de tudo que já se fez, daquilo que gostaríamos que fosse Angola, como não se atingiu, hoje não se sabe que país queremos ter", lamenta o veterano guerrilheiro.

Na FNLA, o cenário é ainda pior, e, recentemente, num encontro entre o presidente da FNLA Nimi a Simbi e o Presidente João Lourenço, o líder do partido dos irmãos colocou a questão sobre os imóveis do seu partido.

Na reunião, segundo Simbi, o Chefe de Estado disse que bastava apresentar os documentos da titularidade destes bens e que o património seria restituído, mas "os papéis já não existem".

Por seu lado, o antigo combatente pelo Exército de Libertação da FNLA Felisberto Kiangala diz que este assunto sobre o património da FNLA deve ser devolvido pelo Executivo porque ninguém pode se arrogar ficar com algo que não é dele, "a não ser que seja ladrão".

O também vice-presidente da Associação dos Antigos Combatentes do
15 de Março, comandante Kiangala, afirma que mais grave ainda que os imóveis são as pessoas.

"O primeiro exército que libertou este país e, que todo angolano acima dos 60 anos de idade sabe que foi a UPA, hoje, grande parte destas pessoas come nas lixeiras, está no Beiral (lar da terceira idade) e sequer se pode dizer que estão abandonados porque quando o teu governo não te reconhece não estás abandonado não, já caíste mesmo", afirma Kiangala.

A Voz da América fez tentativas para ouvir algum responsável dos antigos combatentes e veteranos da pátria ou do pelo MPLA, o que não foi possível.

Entretanto, o general na reforma e membro do MPLA, José Sumbo diz reconhecer que a falha está no processo de reconciliação nacional.

"Tudo tem a ver com a reconciliação nacional que levamos a cabo que não respondeu às necessidades de todo povo angolano, então há que rever o que foi bem feito, continuar e o que foi mal feito corrigir. Nós ainda temos pessoas no nosso seio com as mentes armadas, com comportamento típico do tempo da guerra", conclui Sumbo.

Assinala-se na terça-feira, 4, de Abril o Dia da Paz.

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