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UNITA diz que reconciliação em Angola está encalhada e responsabiliza o Governo


Adalberto Costa Junior, presidente da UNITA, Angola
Adalberto Costa Junior, presidente da UNITA, Angola

A UNITA, principal partido da oposição em Angola, considera que a reconciliação nacional, objetivo definido pelas autoridades logo após o conflito armado, em 2002, é um processo encalhado. A UNITA diz tratar-se de uma estratégia do regime para reter o seu património em diferentes províncias.

O presidente do partido, Adalberto Costa Júnior, diz, em declarações à Voz da América, que o Orçamento Geral do Estado (OGE), em execução há três meses, não contempla áreas que promovam a reconciliação entre os angolanos, estando desajustado dos vários Acordos de Paz.

Do alcance da paz até aos dias de hoje, passados quase 22 anos, a agenda nacional mantém intactos objetivos como unidade e reconciliação, mas Costa Júnior avisa que só mesmo nos discursos.

Ao analisar o OGE/2024 na perspectiva da reconciliação, o presidente da UNITA, partido que suspendeu a sua presença na Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), revela que a prática mostra um Governo que nega a devolução de imóveis e terrenos.

“É um desastre completo, não há um único kwanza para a reconciliação nacional, não está concretizada, temos pendentes que vieram dos Acordos de Paz. Este Governo está completamente de costas viradas para a conclusão da devolução do património da UNITA. Aliás, diz mesmo [o Governo] que não tem nada para devolver”, ressalta o líder da oposição, lembrando que “é obrigatório, quando se faz isso não se pensa em inclusão, mas a minha expectativa é de mais inclusão e desenvolvimento”.

Documentos consultados pela Voz da América na sequência destas declarações indicam que o partido do Galo Negro, agarrado aos Acordos de Bicesse, Lusaka e Luena, reivindica vivendas, apartamentos para os seus dirigentes e edifícios para sedes, muitos, como salienta, ocupados por departamentos ministeriais, estruturas do MPLA e moradias de altas figuras do Estado.

Só em Luanda, segundo ainda os documentos, está um património que o segundo maior partido avalia em mais de 25 milhões de dólares, sem ter em conta as indemnizações que exige.

O partido fundado por Jonas Savimbi, que moveu, há alguns anos, uma ação declarativa de condenação contra o Governo de Angola, faz exigências similares em todas as províncias, lamentando o que chama de assalto ao seu património.

Num primeiro contacto com a VOA, o secretário para informação do MPLA, Esteves Carlos Hilário, no cargo há três semanas, afirmou prestar declarações, mas tal não se verificou.

O evangelista católico João Guerra, que fez parte do movimento Pro Pace durante a guerra, refere que o caminho em direção à reconciliação ainda é longo e pede que haja envolvimento de todos, com a igreja a desempenhar um forte papel.

“Ainda temos expressões como ‘este não é nosso’. Não é que não seja nosso no sentido de pátria ou sangue, é por ideologia política, isso é muito mau. Ligando a questões de património, vamos ver que muitos partidos têm patrimónios alheios”, indica.

Guerra conclui: "não há registos oficiais, porque no momento de corrermos com o colono português não houve acordos para cada um receber, oficialmente, aquilo que hoje tem”.

A Voz da América tentou em diferentes momentos ouvir o MPLA através de um dos seus dirigentes, mas até agora não houve qualquer reação.

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