Uma em cada cinco moçambicanas menores de 15 anos já é mãe ou está grávida e 24 por cento das mortes de adolescentes e jovens com idades compreendidas entre 15 e 19 anos é atribuída à maternidade.
De acordo com o inquérito demográfico da saúde de 2011, 48 por cento das raparigas casa-se antes dos 18 anos e 14% antes dos 15 anos, colocando o país com uma das taxas mais altas do mundo, na 11a. posição na África austral.
"Nós raparigas exigimos o direito de viver a nossa meninice em segurança, não matem a nossa infância, a nossa adolescência, nós queremos construir memórias sobre as nossa brincadeiras, sobre as nossas leituras, sobre os nossos sonhos para inspirar as outras raparigas, não queremos fazer parte das estatísticas das uniões forçadas ou da mortalidade materna", alertou Katia Uamusse, representante das raparigas numa conferência sobre o tema.
Uamusse acrescentou que "uma em cada quatro mortes, isto é, 25% das mortes que ocorrem dos 15 aos 19 anos é atribuída a causas maternas, e é inaceitável que continuem a perpetuar esta injustiça no nosso país".
Para estas raparigas as práticas religiosas e culturais estão por detrás dos casamentos prematuros.
"Nos bairros recônditos há muita prática de casamentos prematuros e nós lá lutamos para acabar com essa prática, por causa das tradições, algumas culturas e igrejas que praticam esses altos", disse Gilda Marimuoa.
Ela revelou que, no ano de 2012, "conheceu o caso de uma rapariga que casou-se com um pastor da Igreja Johane Mahalange, que revelou ter tido um sonho em que Deus falou com ele e disse-lhe que tinha que casar com uma rapariga e escolheu-a sem que os país pudessem se opor por medo de serem expulsos da igreja ou ficarem mal vistos na comunidade".
O Centro de Atendimento Especial a Criança e ao Adolescente (Cecap) diz estar criar uma plataforma com vista a eliminar os casamentos prematuros.
Mwena Uaciquetw, coordenadora do Centro disse que "o plano é continuar com os passos para que a estratégia seja conhecida e disseminada e nós queremos que exista uma lei que criminalize a todos que apoiam casamentos prematuros".
O antigo bispo dos Libombos, Don Dinis Sengulane, afirma que não basta fazerem-se leis, sendo necessário que as mesmas sejam aplicadas.
"Jovens, crianças, adultos, velhos como eu, instituições, incluindo o Estado, todos nós temos de não só de reflectir mas fazer algo sobre a questão dos casamentos prematuros", disse Dom Dinis Segulane.
Várias organizações nacionais e internacionais que trabalham em prol da rapariga estão reunidas à procura de soluções para este fenómeno numa conferência que decorre em Maputo.