A União Europeia (UE) continua a permitir o silenciamento de práticas corruptas gritantes em Angola e a Europa acolhe a pilhagem do país pelos dirigentes de Luanda, onde a lavagem de dinheiro foi institucionalizada.
As acusações são da eurodeputada socialista portuguesa Ana Gomes e estão num relatório que elaborou depois da visita realizada a Angola de 26 de Julho a 2 de Agosto.
"Não é tempo para que a UE permaneça passiva e silenciosa, observando a deterioração da situação, bloqueada politicamente em Angola, considerando também as possíveis implicações para a segurança regional e para membros, como Portugal, que de repente podem enfrentar um fluxo maciço de portugueses e cidadãos de dupla nacionalidade, como resultado da violenta perturbação na inevitável transição de poder", escreve Gomes no relatório.
A eurodeputada diz que a UE não pode continuar a política de "silenciamento de práticas corruptas gritantes em Angola, o que faz uma paródia dos princípios das Nações Unidas sobre direitos humanos e responsabilidade social empresarial, o processo de Kimberley e regulação anti-lavagem de dinheiro".
O Parlamento Europeu (PE) vai discutir na próxima quinta-feira, 10, uma resolução sobre Angola proposta por Ana Gomes.
Na discussão, será apresentado o relatório da eurodeputada que pretende levar tanto o PE como a UE a tomar em conta a situação actual em Angola, em materia de direitos humanos.
"Além de discretas diligências diplomáticas sobre casos individuais, é crucial que a UE seja vista como estando atenta aos Direitos Humanos, nomeadamente sobre a detenção dos presos políticos e a credibilidade de seus julgamentos, que precisam de ser observados", escreve Ana Gomes.
A eurodeputada defende que a Europa pressione as autoridades angolanas a apurar a verdade sobre os confrontos mortais entre a polícia e fieis da seita A Luz do Mundo, liderada por José Kalupeteca, em Abril no Huambo.
No relatório, Ana Gomes refere-se muitas vezes ao caso dos 15 activistas do autodenominado Movimento Revolucionário presos a 20 de Junho e acusados de prepararem um golpe de Estado.
Ela também cita a prisão do activista de Cabinda José Marcos Mavungo,a 14 de Março quando saía de uma missa, alegadamente por estar por trás de uma marcha de protesto e por ter explosivos.
Durante a sua estada em Angola, a eurodeputada encontrou-se com membros do Governo, políticos, jornalistas, elementos da sociedade civil e participou de uma conferência organizada pela Associação Justiça, Paz e Democracia.