A Administração de Donald Trump, que entra em funções no dia 20, coloca na agenda a política dos Estados Unidos para África.
Durante a campanha eleitoral, o tema esteve completamente ausente, mas começam a surgir os primeiros indícios de que alguns dos principais programas poderão ser revistos ou mesmo anulados.
O jornal New York Times revelou que a equipa de transição de Donald Trump enviou uma lista de quatro páginas com perguntas sobre programas da política americana para África.
Entidades do Departamento de Estado dizem que isso é perfeitamente normal em qualquer transição, mas alguns analistas afirmam que o teor e o tom das perguntas indicam mudanças ou pelo menos interrogações sobre alguns aspectos daquela que tem sido até agora uma política bipartidária no congresso americano em relação a África.
AGOA questionado
Alguns dos programas mais conhecidos poderão ser revistos e um deles poderá ser o AGOA, a lei de crescimento e oportunidade em África, ao abrigo da qual produtos africanos de certos países entram nos Estados Unidos livres de impostos
“A maior parte das importações da AGOA é constituída por produtos petrolíferos com benefícios para companhias de petróleo. Porque é que nós apoiamos este benefício enorme para regimes corruptos?”, é uma das perguntas colocadas pela equipa de transição de Trump.
Witney Schneidman, analista da Instituição Brookings, diz que o AGOA poderá, com efeito, ser a primeira baixa do novo Governo americano, em virtude de, certamente, Trump o considerar um mau acordo já que as companhias americanas pouco ou nada beneficiam dele.
Leitura diferente tem Peter Pham, director do programa para África do Centro de Estudos Atlantic Council e apontado por muitos como o próximo subsecretário de Estado Assistente para África.
Pham afirma que a administração Trump deverá apoiar o AGOA porque, segundo ele, 120 mil postos de trabalho foram criados nos Estados Unidos graças a esse acordo.
Millenium Challenge Account em dúvida
Outro programa que poderá ser revisto é o Millenium Challenge Account do qual Cabo Verde e Moçambique beneficiaram com centenas de milhões de dólares.
O programa é um conjunto de doações para programas de desenvolvimento escolhidos pelos próprios países.
Nas perguntas enviadas ao Departamento de Estado a equipa de Trump perguntou qual a quantia da ajuda americana que é “roubada”.
Neste momento, os Estados Unidos gastam anualmente cerca de 8 mil milhões de dólares anuais em ajuda à África subsariana.
Peter Vale, professor na Universidade de Johannesburg num artigo escrito para a cadeia CNN, disse que essa ajuda irá certamente cair, embora permanece como uma incógnita.
Um dos programas americanos de maior impacto e apoio tanto em África como nos Estados Unidos foi o PEPFAR, um iniciado na presidência de George W Bush para ajuda no combate à Sida e Tuberculose.
Menos África
Quando interrogado no senado americano, Rex Tillerson, nomeado por Trump para secretário de Estado afirmou que o PEPFAR “é um dos programas de maior e extraordinário sucesso em Africa”, mas a equipa de transição quis saber se o PEPFAR “vale esse investimento em grande escala quando há tantos problemas relacionandos à segurança em Africa”.
O que todos os especialistas concordam é que questões de segurança deverão dominar a política americana de Donald Trump para África e que deverá aumentar a importância do Comando Africano das Forças Armadas (AFRICOM).
Mas isto só quando interesses americanos estiverem em perigo.
Nas perguntas enviadas ao Departamento de Estado, a equipa de transição de Trump quis também saber sobre a utilidade dos Estados Unidos se envolverem na luta contra o Boko Haram na Nigéria, na Somália contra a Al Shabab e no combate ao grupo ugandês Exercito de Resistência do Senhor (LRA),
“O LRA nunca atacou os interesses dos Estados Unidos porque é que nós estamos envolvidos nisso?”, interrogaram os assessores do Presidente eleito.
Os especialistas concordam que a Administração Trump deverá preocupar-se menos com a situação de direitos humanos nos países africanos e que o continente deverá ter ainda menos peso na politica externa americana.