Os líderes das 20 maiores potências mundiais conseguiram chegar a um acordo com o Presidente americano Donald Trump sobre as sensíveis questões do comércio e do clima, com concessões dos dois lados, na esperança de manter uma coesão no G20.
A declaração final adoptada após dois dias de reunião sob alta tensão em Hamburgo, na Alemanha, marcada por manifestações violentas, carrega a marca das divergências entre a nova administração americana e o resto do mundo.
Em matéria de clima, o G20 só tomou nota da saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, que luta contra o aquecimento global, e do isolamento do país nessa questão: todos os outros países consideram este acordo internacional como "irreversível".
Ao mesmo tempo, Donald Trump obteve a autorização do G20 para conduzir uma política controversa.
O texto afirma que os Estados Unidos vão ajudar os outros países a "ter acesso e a utilizar energias fósseis".
Essa política vai contra a corrente do objectivo da ONU de ter uma economia menos focada em carbono, mesmo com a indicação, no texto, de que essas fontes fósseis serão utilizadas de maneira "mais limpa".
Concretamente, trata-se para os Estados Unidos da possibilidade de vender gás de xisto.
Sobre o resultado da cimeira, o Presidente francês Emmanuel Macron estimou que a reunião permitiu preservar "equilíbrios indispensáveis" sobre o clima e o comércio.
Macron anunciou a organização de uma cimeira sobre o clima a 12 de Dezembro.
Questão do comércio
Na reunião, os Estados Unidos aceitaram incluir na declaração final uma condenação explícita ao "proteccionismo", voltando à tradição do G20 que repete há anos esse refrão.
O papel de "vigilante" da Organização Mundial do Comércio, muito criticada pela administração americana, também foi endossado.
Em contrapartida, Washington obteve uma concessão em troca de seu apoio a esta fórmula: a declaração final reconhece o direito dos países de usar "instrumentos de defesa comercial anti-dumping*".
Esta é a primeira vez na história do G20 em que o recurso a tais "instrumentos de defesa comercial" é mencionado.
*Anti-dumping
O dumping é a prática de exportar um produto a preço inferior ao praticado no mercado interno do país exportador com o objectivo de conquistar mercados ou dar vazão a excessos de produção.
Essa prática é condenada pela Organização Mundial do Comércio (OMC), caso seja responsável por prejudicar ou ameaçar o desenvolvimento da indústria doméstica do país que recebe as importações. A própria OMC regulamenta o uso de direitos anti-dumping – ou seja, a aplicação de uma taxa equivalente (ou inferior) à margem de dumping que venha a ser apurada nas importações.
AFP