O diretor-geral da TotalEnergies, Maxime Rabilloud, diz que os benefícios decorrentes da exploração do gás natural na bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, devem beneficiar, em primeiro lugar, as comunidades locais, e considera injusto que os jovens nativos não sejam prioritários na contratação da mão-de-obra para os projectos ali em curso.
Para analistas, isto significa um reconhecimento por parte da Total e do governo de Moçambique, de que existem ali graves problemas de exclusão e de desenvolvimento.
"É justo que os nativos, sobretudo os jovens tenham prioridade, pelo menos, para viabilizar serviços que não requeiram muita especialização", disse Rabilloud, acrescentando que ‘’os benefícios decorrentes da exploração de recursos naturais, na primeira instancia, devem ser sentidos pelas comunidades locais, para depois serem expandidos para o resto do país’’.
O director-geral da TotalEnergies referiu ser esta a nova visão da companhia, "eu acho que é justo que tudo o que quisermos fazer, cada passo que tivermos que dar, deve ser em conjunto, é necessário que as pessoas de Cabo Delgado tenham trabalho".
O economista e analista político Custódio Dias disse que há bastante tempo que os jovens de Cabo Delgado se vêem queixando de estarem a ser preteridos na contratação da mão-de-obra, dando-se primazia a pessoas de fora da província, mesmo para empresas de prestação de serviços, e o Governo de Moçambique tem culpa nisso, porque permite que isso aconteça.
Exclusão
Dias anotou que o Governo sempre negou que a guerra em Cabo Delgado tenha algumas causas internas, "e o descontentamento dos jovens, por se sentirem excluídos, pode ser capitalizado pelos jihadistas".
Para o sociólogo e analista político João Feijó, a nova visão da TotalEnergies significa o reconhecimento de que em Cabo Delgado há problemas de exclusão e de desenvolvimento, que são algumas das causas da violência armada naquela província.
O governador provincial de Cabo Delgado, Valigy Tauabo, não escondeu a sua satisfação com o anuncio feito pela TotalEnergies, destacando que ‘’esta visão de Maxime Rabilloud é bem-vinda, porque não faz sentido que para actividades que não requeiram especialização, sejam contratadas pessoas vindas de fora da provincia’’ .
Entretanto, o empresário Carlos Matine, diz que isso só será possível se o sector privado moçambicano tiver uma maior participação nos negócios ligados à indústria extrativa, para que as pequenas e médias empresas possam continuar a serem aquelas que criam mais postos de trabalho.
Matine enfatizou que “até para o fornecimento de pequeno almoço aos trabalhadores da TotalEnergies antes da suspensão das actividades, havia sido contratada uma empresa estrangeira’’.
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