Quantos escritores produziu Angola entre 1642 e 2015?
Tomás Lima Coelho, escritor luso angolano, procura responder a questão num livro que sai em Setembro.
Em 10 anos, Coelho vasculhou arquivos e “incomodou amigos” para reunir dados essenciais de 1770 escritores angolanos.
O dicionário será lançado em Portugal, onde Tomás Coelho, natural do Namibe, Angola, vive desde 1975. Há garantia de distribuição em Angola.
“É um trabalho inédito. Penso que ajudará muito a cultura angolana,” diz Coelho.
Adelino Torres, professor catedrático da Universidade Lusófona de Lisboa, escreve no prefácio que o livro “é de consulta indispensável na área da cultura e da literatura nacional”.
A ideia, explica, está alinhada à paixão pela promoção da cultura da terra natal: “Eu vi que cá em Portugal, nós só conhecemos dez autores de Angola – Pepetela, Luandino Vieira, José Eduardo Agualusa, Ondjaki…- que são os consagrados, mas eu sabia que existiam mais”.
Coelho está satisfeito com o “trabalho muito árduo e muito solitário”, mas sabe que Angola poderá ter mais do que 1770 escritores, o que justifica a continuidade da iniciativa.
Diz ele que há certamente “nomes não mencionados, porque houve muitas edições de autores que não tiveram muito destaque, mas penso que não terei falhado muito”.
E “haverá nomes que vão ser surpresa para muita gente. Infelizmente houve muitos angolanos que adquiriram outras nacionalidades, como Alda Lara, que morreu portuguesa”.
O facto não agradou a algumas pessoas das lides políticas de Luanda, conta Coelho, que sugere um debate sobre a “angolanidade, identidade esquecendo a cor da pele e as circunstâncias actuais de cada um, porque somos todos filhos de Angola, quer queiramos, quer não”.
“O meu trabalho é abrangente, tem gente de todos os lados,” diz Coelho.
No prefácio, Torres sublinha que “alguns dos nomes poderão deixar apenas um rasto efémero na memória, mas a sua presença ajudará todavia a fixar fronteiras e etapas que contribuirão para a construção de uma mundividência que, a longo prazo, irá alicerçar e reforçar aquilo que se pode chamar a ´cultura angolana´, diversificada e plural, cada vez mais rica no futuro”.
Mercado e escrita deficientes
Além de anotações gerais, Coelho tem no livro dados biográficos de escritores já falecidos, resenha história da literatura angolana e referenciais estatísticas.
A propósito de números, Coelho menciona o facto de províncias como Lunda Sul terem menos de dez escritores e Luanda mais de 700, o que remete à necessidade de se investir mais na cultura em Angola.
Além de um mercado livreiro deficiente, Coelho diz que Angola debate-se com a capacidade de escrita.
“Infelizmente toda a gente publica livros e se calhar alguns nem leram antes (…) convinha haver nas universidades cursos de escrita criativa, ” sugere.
Acompanhe a conversa com Tomás Lima Coelho: