O desemprego em Angola não afeta apenas os setores laborais menos especializados, mas atinge também aqueles com cursos superiores.
Em cada cinco licenciados e pós-graduados registados no portal de emprego Jobartis, apenas um conseguiu vaga no mercado de emprego formal, durante o primeiro semestre de 2024, segundo um relatório do Centro de Investigação Científica da Universidade Lusíada de Angola (CINVESTEC).
O estudo do CINVESTEC conclui, entretanto, que se a pesquisa for alargada a outros níveis, o resultado é muito mais assustador em relação a pessoas desempregadas com dificuldades para arranjar um emprego.
Bernardo Vaz, professor e investigador pelo CINVESTE, considera que o problema tem duas faces, nomeadamente a fraca qualidade dos candidatos e também na exiguidade de postos de emprego.
Contudo, diz que o principal motivo está no número reduzido de empresas.
"A primeira razão é que há muitas empresas a encerrar as portas, existem poucas empresas no mercado, as empresas estão a enfrentar dificuldades tremendas para continuar operacional e à medida que enfrentam estas dificuldades muitas fecham as portas e as que ficam vão reduzindo o pessoal, mandando trabalhadores para casa, para ver se reduzem os custos”, acrescenta.
Para o professor Vaz, “o fisco que aperta, o que pagam de imposto é exorbitante, empresas que prestam serviço ao estado mas depois o estado não paga a tempo e hora, não pagando aos fornecedores, estes têm dificuldades de contratar mais pessoas ou fazer investimento de expansão, então muitas empresas acabam por decretar falência, ou despedem pessoal”.
“Outra dificuldade das empresas é que como têm que importar matérias-primas, com a dificuldade de obter divisas então não resta outra saída se não encerra", concluiu Vaz.
Outro investigador em economia Heitor Carvalho, vai mais longe e responsabiliza o próprio Estado pela situação.
"A solução era tirar a AGT (Adminsitração Geral Tributária) que só faz burradas, a ANIESA (Autoriade Nacional de Inspeção Económica) que só faz burradas, pôr leis aceitáveis para se produzir para o mercado angolano, ao invés das normas absurdas actuais”, disse.
“É impossível as empresas cumprirem, o estado faz tudo para não haver empresas depois mostra admiração por não haver empresas”, acrescentou
O académico Rafael Aguiar considera haver razões dos dois lados na qualidade de formação das nossas universidades e também no lado do mercado de emprego.
"Por exemplo uma área essencialmente piscatoria como o N´zeto não há lá nenhum curso que prepara pessoas para saber pescar e este é o primeiro desafio, o currículo das nossas escolas, o segundo desafio está na natureza da nossa formação que é eminentemente teórica: Quase que não há laboratórios, há poucas bibliotecas, poucos estágios para profissionais, o indivíduo termina a formação e não tem as competências práticas, para concorrer no mercado de emprego”, acrescentou.
António Estote, director Nacional do Ministério do Trabalho disse ter existido num passado recente um convénio com algumas instituições de ensino para estágios profissionais.
Nalguns casos, segundo o Director Nacional do Emprego tem havido por parte do mercado preferência para umas universidades em detrimento de outras.
"Da experiência tida no passado com estágios profissionais verificamos que jovens de determinadas universidades ou institutos têm maior probabilidade de serem absorvidos, por exemplo indústrias de bebidas como a Refriango e outras de dez jovens provenientes do ISPTEC sete eram contratados, agora se isto tem a ver com a qualidade curricular sobre as demais não tenho elementos para precisar mas nós verificamos alguma preferência sobre estudantes de uma universidade em detrimento de outras”, afirmou.
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