Com mais de 220 casos e 18 mortes devido à cólera em apenas duas semanas, o Ministério da Saúde de Angola anunciou a criação de um centro de tratamento de cólera com capacidade de 100 camas no Cacuaco, município de Luanda, onde começou esse surto.
Especialistas ouvidos pela Voz da América alertam que o país enfrenta sérios riscos de uma epidemia, especialmente devido à falta de acesso à água potável e às condições precárias de higiene em muitas áreas, enquanto os residentes das áreas afetadas clamam por soluções.
Com um sistema de saúde debilitado e recursos limitados, as autoridades e profissionais de saúde estão particularmente preocupados com a possibilidade de a cólera se espalhar rapidamente e atingir comunidades vulneráveis, como as que vivem em zonas periféricas e rurais,
Para o médico pediatra Adriano Manuel, a cólera é um problema de saneamento básico e o país não está preparado para um surto.
"Temos informações que o Ministério da Saúde tem estado a fazer tudo no sentido de evitar a propagação da cólera para outros municípios”, sustenta Manuel que diz ter "informações de fontes fidedignas que estão a criar condições, principalmente nos hospitais e nos centros de saúde de Cacuaco, onde temos um elevado índice de pessoas com cólera".
"O objetivo é impedir com que a cólera chegue a outras partes do país, uma vez que o país não está preparado para um surto. Bem como do ponto de vista de recursos humanos, bem como do ponto de vista de materiais gastáveis. Vamos ver, queremos acreditar que todo o esforço que o Ministério da Saúde está a fazer nessa altura poderá estancar a cólera para outras partes de Luanda”, concluiu aquele médico.
Faustino Caxala, um dos residentes, clama por falta de água potável.
“Nesse preciso momento, a dificuldade de água é tanta. Desde dezembro, que nós não temos água portável. Estamos a depender da água das cisterna, está a custar 200 kwanzas. Com essa situação da cólera, bebendo água das cisternas, isso pode nos afectar não sabemos onde estão a ir buscar a mesma água que estão a usar”, lamenta Caxala.
Para a ministra da Saúde, é preciso evitar mortes, criar estruturas para tratamento antecipado e fornecer mais informação à população, tanto para a prevenção quanto para o reconhecimento de sinais e sintomas da cólera.
“Tivemos mais 54 casos e mais 6 óbitos, infelizmente. Temos um total de 18 óbitos e o que nós temos mesmo que lutar é evitar mortes em primeiro lugar, tratamento atentado das populações, mais informação à nossa população, quer para a prevenção, quer para o reconhecimento por causa de sinais e sintomas e, por outro lado, o tratamento atentado”, afirmou Sílvia Lutucuta, que anunciou a criação de um centro de tratamento de cólera com capacidade de 100 camas no Cacuaco, município de Luanda.
No campo partidário, a UNITA já apelou à criação de condições para o combate à doença.
“O país precisa urgentemente de um novo paradigma face às condições precárias em que vive a grande maioria da população residente em zonas suburbanas", aponta Masalou Pedro, vice-ministro do "Governo sombra do partido UNITA.
Angola já enfrentou surtos de cólera em 2011, 2016, 2017 e 2023.
As autoridades apelam aos setores de Energia e Águas e Finanças para que assegurem o abastecimento de água potável às escolas, já que algumas instituições de ensino estão sem acesso à água ou sem ligação à rede pública.
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