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Sul-africanos chamam de "ridícula" proposta de Trump e africânders dizem que ficam no país


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Presidente dos Estados Unidos suspendeu ajuda à Africa do Sul e disse aceitar africânders como refugiados

Nas ruas do bairro estudantil de Joanesburgo, a oferta do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aceitar africânders como refugiados foi considerada “ridícula” e “esfarrapada” por sul-africanos de todas as raças, segundo a AFP.

Dois dos grupos mais proeminentes que representam os africânderes recusaram a proposta, de acordo com a Associated Press.

Na sexta-feira, 7, o Presidente Trump cortou a ajuda à África do Sul e afirmou que o Governo de Pretória está a confiscar terras de propriedade de brancos e a perseguir os africânders, descendentes de colonos europeus.

O bilionário sul-africano Elon Musk já fez eco no passado sobre um “genocídio branco” no país.

“Trump não sabe nada sobre isto. Sinto que Elon Musk o está a empurrar para trás e a dizer: 'Há qualquer coisa ali. Vai lá ver'”, disse, à AFP, Lulusuku Mahlangu, estudante de engenharia eléctrica, para quem "quando se tem demasiado poder, pensa-se que se pode controlar toda a gente”.

Muitos expressaram a sua indignação e perplexidade pelo facto de os brancos poderem ser considerados vítimas na África do Sul.

Manchetes africanas: Trump diz que vai cortar financiamento à África do Sul
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Os brancos continuam a ser proprietários de dois terços das terras agrícolas e ganham, em média, três vezes mais do que os sul-africanos negros.

“Acho engraçado porque vivo aqui e não vejo esse tipo de perseguição de forma alguma”, disse à AFP Lwandle Yende, 34 anos.

"Limite do ridículo"

“É ridículo, engraçado e estranho”, disse Yende, um especialista em telecomunicações.

“Acho que temos sido bastante complacentes com tudo o que aconteceu no nosso passado”, disse Yende, acrescentando que “o apartheid 2.0 não existe”.

As críticas de Trump centram-se numa nova lei que permite ao Governo sul-africano, em determinadas circunstâncias particulares, confiscar propriedades sem pagamento se tal for considerado de interesse público.

A lei clarifica, essencialmente, um quadro jurídico existente e os juristas sublinham que a lei não confere novos poderes ao Governo.

A proposta de Trump de aceitar africânders como refugiados apanhou muitos desprevenidos, incluindo grupos de lobby brancos de direita.

O decreto presidencial de Trump suspende todo o financiamento dos EUA à África do Sul, incluindo uma importante contribuição para o programa de VIH/SIDA do país.

Um arco-íris forma-se sobre os Union Buildings em Pretória, África do Sul, quinta-feira, 12 de dezembro de 2013.
Um arco-íris forma-se sobre os Union Buildings em Pretória, África do Sul, quinta-feira, 12 de dezembro de 2013.

O Governo da África do Sul procurou acalmar os receios sobre as consequências da proposta de reinstalação de Trump, dizendo que era “irónico” que viesse de uma nação que está a embarcar num programa de deportação.

O plano de Trump parece oferecer muito aos africânders, mas pode acabar por ser pouco, disse Matthew Butler, um especialista em impostos e seguros de 62 anos.

Grupos de africânders dizem que ficam

Entretanto, no sábado, 8, dois dos grupos mais proeminentes que representam os africânderes disseram que não aceitariam a oferta de Trump para a reinstalação nos EUA, segundo reportagem da Associated Press (AP).

“Os nossos membros trabalham aqui, e querem ficar aqui, e vão ficar aqui", disse, à AP, Dirk Hermann, presidente executivo do sindicato africânder Solidarity, que diz representar cerca de 2 milhões de pessoas.

“Estamos empenhados em construir um futuro aqui. Não vamos a lado nenhum”, sublinhou.

Na mesma conferência de imprensa, Kallie Kriel, presidente e diretor do grupo de lobby africânder AfriForum, afirmou: "Temos de declarar categoricamente: não queremos mudar para outro lugar".

No entanto, a Câmara de Comércio Sul-Africana nos Estados Unidos registou um aumento do número de pedidos de reinstalação, estimando que 50.000 pessoas poderão deixar a África do Sul.

"Nenhuma delas deve ser impedida de partir", opinou a professora da Universidade de Witwatersrand, Hannah Maja, à AFP.

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