O primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe garante que o seu Governo mobilizou 160 milhões de dólares na mesa redonda de doadores internacionais realizada na sexta-feira, 13, em Marraquexe, Marrocos.
Analista político adverte para o uso que será dado a esse envelope financeiro e aponta o mau funcionamento dos tribunais e das equipas técnicas de fiscalização de projetos.
Em declarações à Voz da América Patrice Trovoada afirma que o montante mobilizado na mesa redonda de doadores internacionais deve entrar no país durante o biénio 2024-2026.
O envelope é integrado por donativos, concessão de créditos e financiamentos para projetos”, e, segundo trovoada, “certos parceiros ficaram ainda de consultar os seus respetivos países para verem em que volume podem ajudar o nosso país a ultrapassar a crise financeira e económica”.
Presença dos EUA e da França
As energias renováveis e os projetos ligados às alterações climáticas deverão absorver cerca de 50 por cento dos valores anunciados pelos parceiros de desenvolvimento.
“Nós e os nossos parceiros sabemos que a situação insustentável da dívida e de divisas é devido à crise do sector energético”, acrescenta o governante, justificando que, por esta razão, “uma boa parte das ajudas será canalizada para a transição energética”.
Patrice Trovoada sublinha a participação dos Estados Unidos de América na mesa redonda através do Departamento do Tesouro, embora o apoio seja de apenas um milhão de dólares para o Orçamento Geral do Estado.
“As pessoas podem dizer que é um grande país e que deveria contribuir mais, mas para nós a presença do Departamento do Tesouro norte americano foi algo de excepcional e de grande confiança porque não é hábito os Estados Unidos contribuírem com apoio direto aos orçamentos de Estado dos seus parceiros”, assinala Trovoada.
O primeiro-ministro destaca igualmente o engajamento da França que, segundo ele, nos últimos anos deixou de participar nessas iniciativas de apoio aos países em desenvolvimento e ainda sublinhou o papel mobilizador do FMI.
“A intervenção e a mensagem do FMI em direção aos parceiros foi uma mensagem de confiança de que o nosso Governo está empenhado a ultrapassar a crise em que nos encontramos, adotando medidas corajosas para o efeito”, conclui Trovoada.
Para onde vai o dinheiro
O Banco Africano de Desenvolvimento, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) estão entre os parceiros de desenvolvimento que anunciaram ajudas de maior volume para retirar o país da profunda crise económica e financeira em que se encontra.
Entretanto, o analista político Liberato Moniz lembra que não é a primeira vez que o país recebe ajuda dos doadores internacionais e critica, por exemplo, o mau aproveitamento de dezenas de milhares de dólares entregues ao país durante a pandemia da Covid-19, entre 2020 e 2022.
“Com tanto dinheiro que o país recebeu por causa da Covid-19, as condições do Sistema Nacional de Saúde pioram ainda mais nos últimos três anos”, aponta este analista chamando igualmente atenção para os habituais cerca de 30 por cento das ajudas que ficam para assistência técnica internacional.
Mozniz critica também o mau funcionamento dos tribunais e das equipas técnicas de fiscalização de projetos que, na sua opinião “só estão mais preocupadas com o que vão ganhar do que a sustentabilidade e a qualidade das obras”.
De recordar que neste domingo, 15, o FMI anunciou que São Tomé e Príncipe tem capacidade para reembolsar a sua dívida ao longo do tempo e que a economia do arquipélago poderá começar a recuperar ainda este ano, prevendo que a inflação caia para 5 por cento a médio prazo contra os actuais 20 por cento.
Na semana passada o diretor do Departamento Africano do FMI mencionou oito países africanos que necessitam de uma restruturação da dívida, com São Tomé e Príncipe e Moçambique a fazerem parte desta lista, perante uma nova analise dos parâmetros de sustentabilidade da divida.
Aquele instituição acredita ainda que este ano o crescimento da economia são-tomense atingirá o 0,5 por centro e que no próximo ano chegará aos 2,4 por cento, contra um crescimento fraco de 0,1 por cento em 2022.
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