A graduação de São Tomé e Príncipe à categoria país de desenvolvimento médio prevista para Dezembro de 2024 pode conduzir o país ao colapso total da sua economia.
A conclusão é de um estudo coordenado pela economista Maria das Neves, com o patrocínio do Banco Central de São Tomé e Príncipe, que alerta para a suspensão das ajudas internacionais após a graduação.
Analistas políticos consideram que a pressão da comunidade internacional para que a graduação aconteça no próximo ano é compreensível porque o país tem de aprender a andar com seus próprios pés.
No estudo sobre a transição do arquipélago para país de desenvolvimento médio, a antiga primeira-ministra Maria das Neves faz uma comparação dos indicadores macro-económicos do país em 2022 e no ano em que a Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu pela graduação com base em dois dos três indiciadores exigidos para o efeito, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita e o Índice de Desenvolvimento Humano, sem ter em conta o terceiro indicador que é o da vulnerabilidade económica.
“Todos os indicadores degradaram-se drasticamente depois de 2015, altura em que as Nações Unidas decidiram pela graduação em 2018, que depois foi adiada para dezembro de 2024 a pedido das autoridades são-tomenses”, alertou Neves, sublinhando o aumento da inflação de 4 para 25 por cento e a queda do PIB de 4 para 1,5 por cento, entre outros indicadores que também se degradam nos últimos 7 anos.
Perante o quadro que, segundo a economista, tente a agravar-se com as consequências da guerra na Ucrânia e os efeitos das alterações climáticas, e face à decisão tomada pelas autoridades em Março de 2023, em Doha, de avançar só em 2024, a ex-primeira-ministra perguntou se “não seria mais prudente solicitar às Nações Unidas a prorrogação do prazo para mais pelo menos três anos?".
Outro economista e igualmente antigo primeiro-ministro, Joaquim Rafael Branco conclui que os critérios em que as Nações Unidas basearam-se para eleger o país como país de desenvolvimento médio foram sustentados pelo que chamou de “armadilha da ajuda externa ao desenvolvimento”.
“Se tivéssemos olhado como é que conseguimos os índices que permitiram a nossa eleição para país de desenvolvimento médio teríamos dado conta que os mesmos foram sustentados pelas ajudas externas ao desenvolvimento”, diz Rafael Branco, afirmando que as ajudas externas ao desenvolvimento são uma “armadilha” e que 64 por cento voltam a sair do país para pagar assistência técnica internacional.
Para o analista político Alfredo Gonçalves, é compreensível que haja uma pressão dos parceiros internacionais de desenvolvimento no sentido de que esta graduação se faça já em Dezembro de 2024.
“Desde 2015 nós sabíamos que havia este compromisso, temos a maninha de quando a mulher está já a dar à luz é que nos lembramos que não compramos as fraldas”, afirma Gonçalves sublinhando que chegou o momento de São Tomé e Príncipe fazer as reformas necessárias e aprender a viver com o que tem.
“Este país não consegue viver com a estrutura de dirigentes que temos, suportando todas as suas mordomias e regalias”, acrescenta aquele analista, que conclui: “Creio que esta imposição da comunidade internacional é como quem diz: `Meus senhores, vocês até agora andaram a viver às nossas custas, preparem-se para viver às vossas custas”.
O Governo, entretanto, entende que o país já não pode protelar a decisão da ONU comunicada desde 2015 e assumiu em Março passado, em Doha, o compromisso de avançar com a graduação em Dezembro de 2024.
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