A situação do VIH-SIDA em Angola é dramática: 25 mil novas infecções são
registadas anualmente no país. Os desafios da doença em Angola passam pelo fortalecimento da liderança política.
«A liderança política no âmbito do VIH é muito fraca. A Comissão Nacional de Luta Contra SIDA e grandes endemias que é liderada pelo Presidente da República, nos últimos quatro anos não funcionou», de acordo com António Coelho Administrador Executivo da Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA (ANASO).
A discriminação ainda é um facto e quem é portador da doença conta o quão
difícil é para si ter acesso a um emprego ou manter-se nele depois que a
liderança da instituição apercebe-se do seu estado serológico. Apesar da lei
angolana salvaguardar o direito de acesso ao emprego e a não “criminalização” da discriminação a prática é diametralmente oposta.
«É inadmissível que hoje e com mais frequência hajam empresas que pedem
como parte do processo para admissão ao emprego o teste de VIH incluindo
instituições do Estado», denunciou uma portadora da doença que preferiu não revelar o seu verdadeiro nome.
Maria Lizeth, de nome fictício, é seropositva. Ela vive com o vírus do SIDA
há mais de quatro anos e lamenta o facto da sociedade ser bastante crítica em
relação as pessoas vivendo com a doença.
O coordenador da Rede de Pessoas Vivendo com SIDA na província do
Huambo está preocupado com o número excessivo de seropositivos que
padecem de uma alimentação condigna em consequência da falta de emprego.
«É preciso reforçar a lei e sancionar quem assim procede», defende.
Mas, graças ao apoio da família Maria Lizeth tem conseguido por meio dos
tratamentos minimizar os efeitos da doença. É nos filhos onde a jovem tem o
seu porto mais seguro, onde todos os dias atraca para buscar alento e forças
para se manter firme na luta contra doença.
A articulação entre os diferentes actores, para além dos fundos adicionais, já
que Angola não tem disponibilidade financeira para lutar contra SIDA é
fundamental.
A ANASO refere que o Estado está dependente de organizações internacionais
como Fundo Global, porém esta instituição, cobre apenas 40 porcento das
despesas que o país para o combate contra a doença do século.
António Coelho, pensa que sem fundos adicionais a situação da doença em
Angola não vai conhecer melhorias.
«Temos de rapidamente arregaçar as mangas e continuar a mobilizar fundos, fundamentalmente domésticos através de parceiros do sector privado e de outros para se conseguir melhorar a situação», assegurou o activista que entende que a luta contra SIDA passa essencialmente pela prevenção.
A idealização de um Plano Nacional de prevenção contra doença cujo tratamento é a sua acção complementar.
É preciso chamar atenção das pessoas para mudança de comportamento, na
prevenção assente na abstinência, na fidelidade e no preservativo. Coelho
entende que «não se pode medicalizar a resposta contra propagação do sida
no país.
Os dados avançados pela Rede Angolana das Organizações de Serviços de
Sida (ANASO) referem que a taxa de prevalência é de 2 porcento, o que
significa que entre 380 mil a meio milhão de pessoas vivem com VIH-SIDA em
Angola.
A cobertura de tratamento ainda é baixa, com apenas 22 porcento,
sendo que 68 mil pessoas beneficiam de tratamento Anti-retroviral. A taxa de
abandono é de 33 porcento, ou seja, em cada 100 pessoas vivendo com a
doença 33 abandonam o tratamento.
No que respeita a transmissão vertical os dados não são animadores, António
Coelho Director Executivo da ANASO fala 24 porcento.
Apesar dos esforços do governo angolano, o índice de sero-prevalência tem
estado a aumentar. Nos últimos cinco anos 25 mil novas infecções são registadas no território angolano.
Os dados avançados pela ANASO contrariam a informações oficiais. Segundo o Inquérito de indicadores Múltiplos e de Saúde (IINS), realizado em 2015/2016, existem no país cerca 280 mil pessoas vivendo com VIH/SIDA.
No âmbito do Dia Mundial de Luta Contra a Sida, comemorado a 1 de
Dezembro, a ONU/SIDA e a ANASO, realizou a 2 do mesmo mês uma marcha
por algumas artérias da cidade de Luanda. O objectivo foi sensibilizar a
população para prevenção contra doença.
Para o Director da ONU/SIDA em Angola, Michel Pwatu, que está há seis
meses em Angola, é importante que a população esteja consciencializada que
os portadores de VIH/SIDA também contribuem para o desenvolvimento do
país.