O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) exige da Polícia Nacional (PN) explicações sobre detenções sucessivas de jornalistas no exercício da profissão, depois de, neste sábado, 8, ter sido preso o correspondente da Voz da Alemanha, Borralho Ndomba, enquanto cobria a manifestação de estudantes contra a proibição do uso de cabelos compridos em várias escolas, em Luanda.
Além do jornalista, foram também detidos 14 jovens que pretendiam participar no protesto, alegadamente por a manifestação não ter sido autorizada.
"O SJA condena de modo veemente o abuso da autoridade dos efectivos da Polícia Nacional, presentes no Cemitério da Santana, e gostaria de saber se os jornalistas precisam de autorização, à luz da Constituição da República e da Lei de Imprensa, para cobrir quaisquer manifestações", diz a nota assinada pelo secretário-geral da entidade sindical.
Teixeira Cândido lembra que em Agosto, "os jornalistas da Voz da América e da Rádio Ecclésia (Coque Mukuta e Cristóvão Luemba) viram-se retidos e impedidos de realizar as suas actividades", enquanto neste sábado Borralho Ndomba, "se viu obrigado a interromper a transmissão que fazia da manifestação de estudantes, e levado para a esquadra debaixo dos assentos do automóvel policial".
O Sindicato diz considerar que "que as sucessivas detenções de jornalistas, por efectivos da Polícia Nacional, sem que haja da parte dos seus responsáveis quaisquer acções públicas de demarcação, legitima a impressão do Sindicato de existir ordens expressas para obstruir o exercício dos jornalistas".
A nota concluiu que o "SJA não gostaria de acreditar na tese de que a Polícia Nacional, em Angola, é inimiga da liberdade de imprensa".
Borralho Ndomba foi detido quando entrevistava jovens que pretendiam manifestar-se contra a proibição do uso de cabelos compridos em várias escolas.
A manifestação foi reprimida alegadamente por não ter sido autoridade, apesar dos organizadores terem enviado há vários dias a comunicação do protesto ao Governo provincial de Luanda.
Levados para a 6ª esquadra, no Rangel, Ndomba e os detidos foram mais tarde interrogados e libertados, mas alguns jovens foram agredidos.
Na ocasião, retiraram a Ndomba a sua carteira de jornalista e telemóvel, no qual gravou as entrevistas, que, no entanto, foram-lhe devolvidos mais tarde.
Como a VOA noticiou na quarta-feira, 5, a Juventude Estudantil de Angola organizou o protesto porque mesmo sem qualquer proibição legal, alguns professores e directores de escolas continuam a impedir estudantes com o também conhecido “cabelo afro” de assistirem às aulas em Luanda.
Uma das organizadores da manifestação, Evandra Fortunato, disse à VOA na altura que o protesto visava essa atitude discriminatória das escolas e o silêncio das autoridades angolanas.
“Enquanto estudantes, foi com bastante insatisfação que tomamos conhecimento de que, um estabelecimento de ensino, havia impedido um estudante de assistir aulas, enquanto não cortasse o cabelo, pelo facto desse ser crespo, sendo que o mesmo não acontecia com os meninos que tinham cabelo liso e comprido, ou seja de pele branca...”, conta Fortunato, que acrescenta ter recebido muitas outras queixas.
Agora, ela diz exigir “um pronunciamento do Ministério da Educação, do INAC e do Ministério da Cultura” porque “somos africanos e o nosso cabelo é a nossa identidade, negamos a continuar reclusos de qualquer tipo de discriminação pelo nosso tipo de cabelo, cor da pele ou qualquer outro motivo”.
Os estudantes solicitaram no dia 26 do mês passado um encontro com a ministra da Educação mas não otiveram qualquer resposta.
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