O Governo São-tomense começou a distribuir, neste fim-de-semana, alimentos às vítimas do temporal que se abateu sobre o país a 28 de Dezembro, ao mesmo tempo que apressa-se para concluir o relatório da calamidade visando formalizar o pedido de ajuda à comunidade internacional.
O fundo de emergência anunciado pelo próprio primeiro-ministro ainda não foi criado.
A ministra dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidades, Edite Ten-jua, pediu ajuda aos parceiros internacionais para fazer face à destruição causada pelas enxurradas, mas até agora o Executivo não tem todos os dados da dimensão dos estragos, nem das necessidades de ajuda, o que tem atrasado o processo.
“Para chegar aos parceiros e pedir apoios temos que ter elementos sólidos, temos que ter valores concretos, temos que ter um relatório circunstanciado da situação”, reconheceu o ministro das Finanças, Engrácio da Graça, para quem o Governo não pode perder mais tempo.
“Há pessoas a passarem muita dificuldade, há vias de acesso bloqueadas, pessoas que não conseguem sair das suas localidades...creio que no mais tardar até quinta-feira, 13, teremos o relatório concluído”, prometeu o governante que também fez saber que a criação do fundo de emergência, anunciado pelo Governo há cerca de duas semanas, também, ainda não foi concretizado.
Ajuda interna
Ante esta falta de ajuda, o Governo e a sociedade civil, nomeadamente a Igreja Católica, têm procurado minimizar as dificuldades dos afectados.
Zeferina da Silva, mãe de oito filhos, está entre as centenas de famílias que perderam tudo e aguardam a ajuda prometida pelas autoridades.
“Nós não temos mais nada. Água levou tudo. O meu marido não tem trabalho. O campo agrícola é que era a nossa vida. Ficou tudo destruído”, conta a mulher de cerca de 40 anos de idade, rodeada dos seus filhos num quintal varrido pelas enxurradas.
Os idosos são os que mais sofrem.
A irmã Lúcia Cândido, do Projecto de Desenvolvimento Integrado de Lembá, procura alternativas para garantir uma refeição por dia a dezenas de idosos em localidades isoladas depois da queda das pontes.
“Fazemos um cabaz três vezes por semana, vamos até a ponte que está partida e do outro lado temos uma motorizada à espera para fazer chegar comida aos idosos”, explicou a Irmã da Igreja Católica, sublinhando que a penúria de quem a sobrevivência depende dos outros agravou-se com a falta de água.
“Muitos são acamados. Temos que lhes dar banho, lavar a roupa... eles fazem tudo na cama... está muito difícil”, lamentou Lúcia Cândido e agradeceu a Embaixada de Portugal que há dias mandou um camião cisterna de água para abastecer os tanques do Lar de São Francisco.
“Foi uma graça de Deus”, disse a missionária das Irmãs Franciscanas Hospitaleira da Imaculada Conceição.
As chuvas que abateram sobre o arquipélago, especialmente na ilha de São Tomé, no dia 28, nunca vistas em cerca de 30 anos, deixaram dois mortos e um rastro de destruição em infraestruturas públicas e propriedades privadas ainda por contabilizar.
O Governo decretou estado de calamidade por um período de 15 dias.