Sarah Maldoror foi a vencedora do Prémio de Cultura e Artes na disciplina de cinema e áudio-visuais, a título póstumo, anúncio feito pela comissão do júri do prémio a 30 de outubro.
Henda Ducados, filha da cineasta, diz que a família recebeu de bom agrado o reconhecimento do Governo angolano pelo contributo de Sarah na denúncia da opressão colonial que existia em Angola, então província ultramarina portuguesa.
“Sarah Maldorar foi uma porta-voz dos oprimidos, das populações mais desfavorecidas de África e do mundo em geral”, diz a filha da cineasta.
Companheira de Mário Pinto de Andrade (1928-90), com quem teve duas filhas, envolveu-se na luta pela independência das colónias africanas.
Percorreu um vasto percurso cinematográfico de grande qualidade e persistência.
Realizou em 1972 o famoso Sambizanga que, tal como Monangambê (1971), é inspirado na obra A Vida Verdadeira de Domingos Xavier, de Luandino Vieira.
Do escritor, a cineasta retém “o diálogo íntimo, do sujeito angolano silenciado, cuja história é contada numa perspectiva alternativa e contestatária do colonizador opressor”, escreve Maria do Carmo Piçarra em Angola, o Nascimento de uma Nação.
Sambizanga foi filmado durante sete semanas em Brazzaville, no Congo.
Abordando a guerra colonial portuguesa, no período 1961-1974, tornou-se um dos mais importantes filmes sobre a resistência africana.
Mário Pinto de Andrade foi co-argumentista.
A história centra-se na procura de uma jovem mulher pelo seu marido preso e culmina num conto de separação e brutalidade que, através da perícia de Maldoror, torna-se muito afirmativo.
Sarah Maldoror define-se como tendo um papel cultural na sétima arte, fazendo pesquisa cinematográfica sobre a História africana, “a História tem sido escrita por outros e não por nós, diz a autora numa entrevista de Beti Ellerson, de 1997.
“Se eu não me interesso pela minha própria história, quem vai se interessar? Eu acho que é necessário defendermos a nossa própria história, e que a tornemos conhecida – com todas as nossas qualidades e defeitos, nossas esperanças e desesperanças”, afirmou.
Foi a cineasta homenageada no primeiro FIC Luanda (Festival Internacional de Cinema), em 2008, e nessa altura pôde revisitar Angola, país que tanto ocupou a sua criação.
Sarah Maldoror viveu em Paris, onde morreu a 13 de abril de 2020.