Há 30 anos, surgiu em Angola o personagem "Mankiko, o imbumbável", que deu início a uma era e impulsionou a carreira do mais reconhecido cartunista do país: Sérgio Piçarra.
Em Dezembro passado, Sérgio Piçarra lançou o seu mais recente livro, “Agarra Marimbondo”, que reúne os cartoons que publicou nos jornais Expansão e Novo Jornal, entre 2019 e 2020.
A sátira social personificada por “Mankiko – o imbumbável” fica assim compilada em livro, construindo uma narrativa actual, de um artista que criou outros personagens como, Fatita, Bajulino e o respectivo Chefe, a menina Esperança e o ‘cassule’, Futuro.
Nome incontornável da comunicação e das artes em Angola, Sérgio Piçarra recebeu recentemente o Prémio Franco-Alemão dos Direitos Humanos e do Estado de Direito 2020, o primeiro atribuído a um angolano.
Ele foi distinguido pelo seu engajamento pessoal e pelo trabalho que contribui para a promoção da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa e do Estado de Direito em Angola.
Convidado do programa “Artes”, da VOA, Piçarra define-se como alguém que “está sempre preocupado com os direitos humanos” e acredita que “num contexto como o nosso, mais ou menos fechado quanto à liberdade de expressão e que envolve a componente dos direitos humanos, este tipo de actividade tem uma certa relevância pelo seu tipo de leitura e de compreensão”.
Ele se define como um cartoonista que editorializa e que faz “arte com mensagem” à luz da realidade angolana, adornando-a com humor.
Na conversa, Sérgio Piçarra aborda o seu processo criativo, que “começa sempre com uma preocupação”, com o processo político do país, com a identidade, com o povo”, ao qual ele empresta a sua arte.
Mas, acrescenta, é um processo difícil porque às vezes, a situação “é tão caricata que não é preciso fazer humor, por si só já é um cartoon”.
Ousadia
O artista aborda esse processo, a auto-censura e filtros, o papel do cartoonismo nos tempos modernos, nomeadamente em Angola, e esclarece: “os memes não são cartoon, são uma brincadeira”.
Para Sérgio Piçarra, o cartoon tem de ser ousado e o papel do seu autor é identificar a linha vermelha e saber ultrapassá-la, “e esta é a parte difícil”.
Entretanto, essa ousadia às vezes encontra pela frente a falta de liberdade, a opressão.
Na actualidade, em Angola, “sinto-me mais livre”, assegura Piçarra, quem reconhece a melhoria do ambiente no país desde a posse de João Lourenço, quem ele desenha “regularmente, sem pensar duas vezes, coisa que não acontecia antes”.
"Desenhei José Eduardo dos Santos, no máximo duas vezes, e “sempre com medo”, sublinha.
Quanto ao Prémio Franco-Alemão dos Direitos Humanos e do Estado de Direito 2020, que ele recebeu a 3 de Fevereiro em Luanda, ele fala “em satisfação”.
Acompanhe a conversa em Artes: