O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e os governos de Angola e da República Democrática do Congo (RDC) retomaram nesta terça-feira, 19, o programa de repatriamento voluntário dos refugiados do Kasai, na RDC.
Aquela agência da ONU anunciou que o primeiro grupo de 88 refugiados e dependentes saiu do assentamento do Lôvua hoje e deve atravessar a fronteira para a RDC amanhã.
A primeira viagem será realizada pela fronteira de Chicolondo e outros grupos deixarão Angola pela fronteira de Chissanda.
Esta informação foi confirmada à VOA pelo director adjunto do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS), padre Celestino Epalanga.
“Este é o primeiro grupo de refugiados depois da Covid-19”, assegurou aquele responsável que não precisou a data para a conclusão do repatriamento das 35 mil pessoas que, em 2017, chegaram à província da Lunda-Norte, devido a actos de violência na zona do Kasai, na RDC.
Em seguida, refugiados e familiares seguirão em direcção às províncias de Kasai, Kasai Central, Kwilu, Sankuru, Lomami, Lualaba e Kinshasa.
O ACNUR estima que há mais de 9.800 refugiados da crise do Kasai na Lunda Norte e destes cerca de 7.000 vivem no assentamento do Lôvua.
A par do Serviço Jesuíta aos Refugiados a operação conta com a colaboração da Organização Internacional para as Migrações (OIM) e dos parceiros Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo (ADPP), Igreja Evangélica dos Irmãos em Angola (IEIA) e World Vision.
A organização refere que os refugiados hoje repatriados vão ser recebidos, do outro lado da fronteira, pelo ACNUR da RDC, em conjunto com as autoridades locais e parceiros que estão a trabalhar para criar condições para a reintegração destes refugiados no país de origem.
Até este momento, cerca de 10% da população do assentamento do Lôvua mostrou a intenção de regressar à RDC, segundo o ACNUR que admite que mais refugiados se mostrem interessados em regressar depois do reinício do repatriamento voluntário.
O ACNUR precisa que o repatriamento voluntário cria as condições para regresso, mas são os próprios refugiados, de forma individual, que decidem se querem voltar ou não ao país de origem.
Em 2019, devido à melhoria da situação na RDC, mais de 17 mil destes refugiados regressaram ao país de origem de forma espontânea, com meios próprios.
Na altura foi organizado um retorno voluntário que levou ao regresso de 2.912 pessoas, de forma organizada ao abrigo de um acordo entre os governos de Angola, da RDC e o ACNUR.
A operação de repatriamento tinha sido suspensa em Fevereiro de 2020, primeiro devido às más condições das estradas e da ponte sobre o rio Kasai e, mais tarde, devido à COVID-19 que levou ao encerramento das fronteiras entre os dois países.