Angola e Moçambique desceram na classificação da organização não governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF) sobre a liberdade de imprensa no mundo, enquanto Cabo Verde e Guiné Bissau subiram.
São Tomé e Príncipe não aparece no documento.
O relatório divulgado nesta quarta-feira, 26, revela que Angola desceu dois lugares, ocupando agora a 125ª. posição, devido, segundo os autores do documento, ao controlo que o regime mantém sobre a comunicação social.
"Apesar de uma liberalização modesta que acabou com o monopólio da televisão estatal, os jornalistas continuam a ser sujeitos a um controlo constante, seja através da legislação angolana anti-difamação ou através de métodos mais diretos como a detenção de jornalistas que irritam as autoridades", lê-se no documento, que também cita a nova legislação que facilita processos judiciais por difamação e obriga a televisão e a rádio a transmitir discursos presidenciais.
Moçambique, por seu lado, desceu da posição 87 para o 93º. lugar, fruto da autocensura, especialmente em zonas rurais, e intimidação aos jornalistas por parte das autoridades.
O relatório cita o caso de do jornalista Paulo Machava, do jornal online Diário de Notícias, e que foi abatido em 2015 em plena rua, depois de "ter defendido jornalistas processados por difamação do chefe de Estado".
Cabo Verde é o melhor país lusófono em África no índice da liberdade de imprensa, ocupando agora o 27o. lugar, mais cinco que em 2016.
O relatório diz que o país distingue-se pela ausência de ataques a jornalistas e à liberdade de imprensa "excepcional", mesmo nos órgãos públicos cujo conteúdo é independente.
A auto-censura, no entanto, existe, com os autores do relatório a considerar que tal fenómeno existe devido ao "tamanho pequeno do país e do sector da comunicação, o que faz os jornalistas relutantes em criar conflitos com possíveis futuros patrões".
A Guiné-Bissau ocupa a 77a. posição, dois lugares acima de 2015.
A Repórteres Sem Fronteiras afirma que o "impasse político favoreceu a ingerência do Estado os meios de comunicação estatais, cujos directores foram substituídos" e diz existir autocensura principalmente em temas relacionados com "o Governo, o crime organizado ou a influência dos militares na sociedade".
Portugal é o lusófono melhor colocado (18), enquanto Timor Leste ficou na 98a. posição e o Brasil no lugar 103.
"Nunca a imprensa esteve tão ameaçada"
A Repórteres Sem Fronteira escreve no relatório de 2017 que a liberdade de imprensa no mundo está mais ameaçada do que nunca devido a informações falsas e à retórica contra a imprensa, apontando o dedo ao Presidente americano Donald Trump.
A chegada de Trump ao poder nos Estados Unidos "precipitou a caça aos jornalistas", afirma o relatório que cita o facto de o Presidente americano acusar a imprensa de publicar informações falsas.
Trump "não apenas compromete uma longa tradição americana de luta pela liberdade de expressão", mas também "contribui para desinibir os ataques contra a imprensa no mundo", destaca aquela organização.
"Nada parece deter o retrocesso nas democracias" e países considerados como "virtuosos" retrocedem na classificação da Repórteres Sem Fronteira: Estados Unidos (43º), Grã-Bretanha (40º) e Chile (33º) caíram dois lugares,
Na lista, liderada pela Noruega e que tem a Coreia do Norte na cauda, 72 países encontram-se em situação "difícil" ou "muito grave", como China (176º) e Cuba (173º), onde a morte de Fidel Castro, "um dos piores depredadores da liberdade de imprensa no mundo", não alterou o "monopólio do Estado sobre a informação", escreve o RSF.
Neste grupo em situação "difícil" destacam-se ainda Rússia (148º) México (147º), Honduras (140º), Venezuela (137º), Colômbia (129º), Guatemala (118º), Paraguai (110º) e Nicarágua (92º).
A organização Repórteres Sem Fronteiras destaca o caso do México, que em 2002 ocupava a 75ª posição e hoje caiu para a 147ª.
Em 2016, dez jornalistas foram assassinados no país e "Março de 2017 foi marcado por ataques em série".
Liberdade piorou
Por regiões, a liberdade de imprensa piorou em todas a partir de 2013, e a mais difícil e perigosa área para os jornalistas continua a ser o Médio Oriente e o norte da África, seguida pelo leste da Europa, Ásia Central, Ásia-Pacífico, África, América e Europa Ocidental.
A Europa registrou o seu maior retrocesso nos últimos quatro anos, com a aprovação de leis contra a liberdade de imprensa e ataques de líderes "anti-sistema" que tratam de desacreditar a imprensa, a exemplo do britânico Nigel Farage e do italiano Beppe Grillo.