A Renamo e o MDM, na oposição em Moçambique, já se inscreveram junto da CNE para as eleições autárquicas de 11 de Outubro, o que inviabiliza a coligação que havia sido aventada pelos líderes dos dois partidos.
Para analistas políticos este posicionamento significa que há divergências profundas quanto à distribuição do poder depois do escrutínio.
Ossufo Momade e Lutero Simango manifestaram-se disponíveis para uma coligação eleitoral "para tirar a Frelimo do poder", uma aliança que, no entanto, nos termos da lei, já não se pode concretizar, porque os dois partidos se inscreveram individualmente, embora o deputado Venâncio Mondlane, pela bancada da Renamo, afirme que "tudo ainda está em aberto".
Mondlane reitera que "a Renamo está aberta a uma parceria eleitoral, tanto mais que durante o recenseamento, fizemos uma fiscalização conjunta com o MDM a nível nacional, e os resultados foram francamente positivos’’.
Entretanto, à televisão pública, TVM, Salomão Moiane, membro da Comissão Nacional de Eleições, disse que já não há qualquer possibilidade de coligação e sublinhou que um entendimento político entre os partidos é a coisa mais difícil em Moçambique porque se pergunta quem vai ser presidente.
Moiane esclareceu que tudo o que se pode fazer agora é estabelecer parcerias políticas, "mas não coligação, porque a lei não permite", lamentando que "por compromissos, os dirigentes dos partidos não consigam resistir à ganância individual".
O pesquisador do Centro de Integridade Pública Ivan Mausse recordou o facto de que a Renamo surgiu no xadrez político moçambicano depois de um conflito militar e da adopção, em 1990, da nova Constituição da República, que introduziu o multipartidarismo, permitindo que o partido de Afonso Dhlakama participasse nas eleições gerais de 1994, tendo obtido resultados não muito bons.
A mesma situação voltou a acontecer em 1999.
Mausse avançou que quando Afonso Dhlakama autorizou que a Renamo se coligasse com outros partidos, constituindo a Renamo-União Eleitoral, nas eleições parlamentares de 2004, aquela aliança partidária, obteve 29, 7 por cento dos votos, um resultado muito bom.
"Mas isso se inverteu com o surgimento do MDM, tido na altura como uma dissidência da Renamo, e o que se viu depois foi uma situação em que membros da Renamo se juntavam ao MDM e deste ao partido de Afonso Dhlakama, tal como tem vindo a acontecer até ao presente momento", afirmou aquele pesquisador.
Mausse referiu que num quadro como este, em que pela historia dos dois partidos, que teriam mais interesse numa coligação, "o MDM e a Renamo não se coligam porque existem interesses particulares de cada uma destas organizações".
Ele anotou também que "infelizmente, em Moçambique a política é vista como um instrumento para a distribuição de vários cargos entre os membros dos diferentes partidos, e num quadro em que parece que ninguém pretende dividir o bolo, a idéia é cada um avançar para as eleições com os seus próprios recursos".
O MDM submeteu na segunda-feira, 10, a sua inscrição, e a mandatária Silvia Cheia disse que o seu partido demorou a inscrever-se na Comissão Nacional de Eleições porque esperava que houvesse alguma negociação sobre a coligação com a Renamo, "mas isso não aconteceu por conta da desconfiança política que existe e da falta de interesse em se dividir o bolo".
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