Nove meses depois da assinatura dos acordos de cessação das hostilidades, que, oficialmente puseram fim aos confrontos armados entre as Forças de Defesa e Segurança (FDS) e as tropas residuais da Renamo, o país voltou a registar vítimas resultantes de desentendimentos entre os dois exércitos.
A recente confrontação registou-se no domingo, 14, na localidade de Mucombedzi, posto administrativo de Zóbwè, distrito de Moatize, na província de Tete, e resultou em mortos e feridos entre as forças em confronto, em número sem descrição oficial.
A denúncia foi feita nesta terça-feiram 16, pela Renamo, através do seu porta-voz António Muchanga, em conferência de imprensa em Maputo, salientando que a confrontação foi uma reacção das tropas do seu partido, na sequência de uma ofensiva das FDS.
"No domingo à tarde, dois camiões e um veículo Land Cruiser, equipado com uma metralhadora, partiram da cidade de Tete cheios de militares e foram àquela povoação atacar o quartel da Renamo", denunciou Muchanga.
Segundo o porta-voz, o ataque de domingo foi o segundo sofrido pelas suas tropas, em menos de uma semana. O primeiro teve lugar na passada quinta-feira (três dias antes de Tete), no distrito de Funhalouro, província de Inhambane, que só não registou vítimas porque, ao invés de confrontação, "os guerrilheiros da Renamo conseguiram escapulir-se".
Para além de deixar a sua condenação aos ataques, que "colocam em causa o acordo de 5 de Setembro (2014)", Muchanga alertou que a situação está a gerar nervosismo e impaciência no seio dos comandantes das tropas do seu partido, em particular.
"A paciência dos comandantes da Renamo está a esgotar-se", alertou Muchanga, salientando, no entanto, que Afonso Dhlakama está preocupado com a situação, mas "na qualidade de comandante-chefe das forças armadas da Renamo, pede a contenção das forças do Governo para que a paz seja uma realidade no país".
O porta-voz do Comando Geral da Polícia da República de Moçambique, Pedro Cossa, confirmou ontem a ocorrência, mas atribui a autoria dos ataques aos homens armados da Renamo.
Um dos princípios estabelecidos nos acordos de 5 de Setembro é a cessação total da confrontação armada, situação que, apesar de algumas acusações surgidas a caminho, foi respeitada durante os cerca de oito meses em que o processo esteve sob a supervisão da Equipa Militar de Observação da Cessação das Hostilidades Militares, dissolvida ao fim de dois mandatos inglórios.