A agência de rating Fitch coloca a dívida soberana de Angola na categoria de "Lixo" e diz que o crescimento da economia será de zero em 2016.
Os dados do último relatório da agência têm, no entanto, leituras diferentes por especialistas angolanos.
O economista e deputado Manuel Fernandes considera o que parecia uma coisa afinal é outra.
“O que parecia ser uma potência económica afinal é um elefante branco na medida em que a alta do preço do petróleo escondia muita coisa sobre a gestão da economia por parte do Executivo que com o choque brusco da queda do preço da sua principal matéria prima coloca a nu o desempenho macroeconómico de Angola”, alegou Fernandes.
Yuri Kixina, outro economista, considera que nem sempre estas agências de rating têm leituras próximas da realidade.
Para ele, “quando a economia estiver a crescer atribuem notações positivas mas quando está a regredir atribuem notas baixa, sem fazer análises profundas”.
Como exemplo, Kixina aponta o caso da crise financeira internacional “em que os bancos que faliram tinham notações positivas, mas enfrentavam problemas brutais”.
Entretanto, Yuri Kixina não deixou de manifestar preocupação com o nível de endividamento de Angola.
Dívida é problema
“A dívida pública está a seguir uma trajetória preocupante, principalmente a dívida externa, o que significa que são dólares que saem do país para pagar dívidas lá fora”, complementa.
Quem não concorda com a apreciação de Kixina sobre as agências é José Severino, presidente da Associação Industrial Angolana (AIA), para quem “as agências nos merecem o máximo respeito e os seus dados absolutos são relatórios que conformam com a realidade''.
Severino, no entanto, prefere deixar recomendações para a alteração do quadro descrito pela Fitch: ''Acho que primeiro de tudo é substituir as importações e maximizar a produção nacional existente, não vale a pena continuarmos a passar esponja ou pano sobre o que vai mal é preciso mostrar ao Executivo de forma didáctica e persistente o que vai mal''.
Relatório da Fitch
O relatório divulgado este fim-de-semana pela Fitch destaca que Angola continua sob um “severo choque petrolífero”, que estalou em 2014 com a brusca queda do preço do crude no mercado internacional e cuja venda representava 95 por cento das suas exportações.
“O sector petrolífero mantém algum dinamismo, mas a Fitch espera que a economia cresça zero em 2016, descendo dos três por cento em 2015 e com a pior performance em 14 anos”, escreve a agência.
O documento projecta uma inflação média de 30 por cento de 2016, abaixo dos 38,1 por cento de Agosto e da previsão do Governo que é de 38,5 por cento.
Quanto ao défice das contas públicas, a Fitch tem uma projecção mais optimista que a do Executivo, ao apontar para 5,8 por cento contra os 6,8 por cento previstos no Orçamento Geral do Estado revisto na semana passada.