O jornalista e activista angolano Rafael Marques de Morais foi nomeado 70º Herói Mundial da Liberdade de Imprensa pelo Instituto Internacional da Imprensa (IPI).
Em nota enviada às redacções nesta terça-feira, 22, o IPI destaca que Marques "tem enfrentado décadas de assédio e processos jurídicos ao revelar a corrupção e os abusos de direitos humanos" em Angola.
“Apesar da repressão sistemática dos meios independentes em Angola, Rafael Marques tem conseguido – correndo grande risco pessoal – fazer incidir uma luz no abuso de poder ao nível mais elevado com coragem e persistência”, diz na nota a directora-executiva do IPI.
Barbara Trionfi destaca que, através dos seus artigos, livros e pesquisa, "o senhor Marques tem levado a cabo o tipo de jornalismo de vigilância que os meios controlados pelo Estado do país não conseguem concretizar, proporcionando um serviço essencial ao público angolano e à comunidade internacional”.
O Prémio Herói Mundial da Liberdade de Imprensa do IPI homenageia jornalistas que deram uma contribuição significativa para a promoção da liberdade de imprensa, particularmente aqueles que colocam em risco a sua integridade pessoas.
No comunicado, o IPI destaca a trajectória de Rafael Marques desde quando escrevia em jornais independentes e, depois, no seu portal Maka Angola.
Destaque para a trajectória de Marques
O Instituto destaca que "Marques desencadeou a ira oficial pela primeira vez em 1999 quando publicou um artigo no semanário independente Agora descrevendo José Eduardo dos Santos como um ditador responsável por destruir o país e promover a incompetência e a corrupção".
A prisão de Marques e as várias investigações por ele feitas são realçadas pelo texto assinado por Barbara Trionfi, que destaca a sua obra “Diamantes de Sangue: Corrupção e Tortura em Angola”, publicada em 2011 na qual "detalha alegações de homicídio, agressão, detenção arbitrária e deslocamento forçado de civís com relação à lucrative indústria de mineração de diamantes do país".
A directora-executiva do IPI saudou Marques pela sua "dedicação à procura da verdade em um ambiente implacável para a liberdade de imprensa".
Processo em curso
Trionfi também deplora o processo em andamento contra Marques, no qual ele e um colega, Mariano Brás Lourenço, "enfrentam acusações por insultar uma autoridade pública sobre um artigo de 2016 que examina uma transação imobiliária envolvendo o então Procurador-Geral de Angola".
“Angola deve acabar com o seu assédio ao senhor Marques e a todos os jornalistas em Angola”, observou a directora-executiva para quem "se o Presidente Lourenço leva a sério a mudança, ele deve permitir que meios críticos e independentes floresçam”.
Marques agradece
Na nota do IPI, Rafael Marques disse estar "profundamente honrado e agradecido".
"Este prémio vem num momento em que estou sendo julgado por expor a corrupção de altas instâncias, enquanto o Presidente Lourenço afirma estar lutando contra isso. No entanto, é inadequado receber um prémio internacional por fazer o trabalho básico de expor os males do meu próprio país a fim de corrigi-los para o bem comum", conclui o jornalista angolano.
Rafael Marques é o primeiro Herói Mundial da Liberdade de Imprensa do IPI natural de Angola e o terceiro de um país de língua portuguesa, depois do português Nuno Rocha e do brasileiro Júlio de Mesquita Neto.
O International Press Institute (IPI) é uma das mais antigas organizações mundiais dedicadas à promoção do direito à informação.
A organização é uma uma rede global de jornalistas e editores que trabalha para salvaguardar a liberdade de imprensa e promover a livre circulação de notícias e informação, bem como a ética e o profissionalismo na prática do jornalismo.