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Rafael Marques dedica Prémio Herói Mundial da Liberdade de Imprensa ao povo angolano


Rafael Marques recebe Prémio Democracia 2017 do NED
Rafael Marques recebe Prémio Democracia 2017 do NED

Jornalista denuncia corrupção e impunidade ao receber o prémio do Instituto Internacional de Imprensa

“Angola é um país onde as pessoas mais corruptas não chegam a ser julgadas e começam a ter prazer em serem apenas acusadas de corrupção”, afirmou o jornalista e activista angolano Rafael Marques ao receber na sexta-feira, 22, em Abuja, na Nigéria, o Prémio Herói da Liberdade de Imprensa, do Instituto Internacional de Imprensa.

No discurso em que aceitou o reconhecimento, Marques lembrou que os corruptos são “arguidos” para sempre e que o seu trabalho como jornalista de investigação é muito difícil, o que faz dele também um activista.

“O jornalismo de investigação a que me dedico através do Maka Angola, embora decorra num ambiente hostil, tem contribuído para alimentar a esperança de muitos angolanos comuns, que acreditam que uma força em prol do bem possa vingar na sociedade”, defendeu Marques, acrescentando que “ser jornalista independente em Angola é lutar pelo espaço e pelo direito de trabalhar como tal (…) e isso faz também um activista”.

Marques lembrou que a notícia do prémio foi recebida por muitos angolanos com tanto entusiasmo que fizeram circular nas redes sociais a imagem dele como sendo o Pantera Negra de Wakanda.

“Este prémio não é para mim. Trata-se de uma distinção que reflecte a esperança de muitos angolanos: a esperança de que as mudanças não decorram simplesmente de decisões políticas, mas também de uma consciência e de uma postura proactiva crescentes por parte da sociedade civil no meu país”, defendeu o jornalista, que, na ocasião, afirmou que “é por estes angolanos esperançosos e com grande sentido de responsabilidade – mas sem as vestes do Pantera Negra – que humildemente aceito este prémio”.

Para Marques, "a pilhagem dos recursos do Estado, os abusos dos direitos humanos, a corrupção e o desprezo político pelo sofrimento do povo são os principais males da sociedade angolana”, onde, segundo Marques, “os poderosos tiram o que legitimamente pertence a todos, assim espezinhando todos”.

Na ocasião, o jornalista e activista agradeceu a organização não governamental National Endowment for Democracy pelo apoio fundamental disponibilizado nos últimos seis anos que lhe permitiu para continuar o trabalho e "manter a cabeça acima da linha de água”.

De igual modo, esendeu os seus agradecimentos aos “colaboradores, amigos e fontes que têm contribuído de forma inestimável para a produção de qualidade do portal Maka Angola”, tendo muitos, segundo ele, manifestado a sua solidariedade nestes últimos dias, "em que mais uma vez sou julgado por expor os corruptos e a teia obscura do poder angolano”.

Na sua intervenção, o jornalista revelou que o seu filho adolescente quer estudar gestão de negócios e ter os recursos necessários para apoiar a sua independência e, consequentemente, oferecer-lhe mais ferramentas para intensificar a luta pelas liberdades de imprensa e de expressão, a boa governança e os direitos humanos.

“Espero que, quando ele alcançar os seus objectivos, venha a fazer parte de uma nova Angola, que o país esteja pronto para receber o seu contributo para o desenvolvimento e que as liberdades de imprensa e de expressão sejam um dado adquirido”, manifestou Rafael Marques em Abuja.

O prémio

Ao atribuir o prémio Herói Mundial da Liberdade de Imprensa ao jornalista a 22 de Maio, o Instituto Internacional da Imprensa (IPI) destacou que Marques "tem enfrentado décadas de assédio e processos jurídicos ao revelar a corrupção e os abusos de direitos humanos" em Angola.

Entretanto, “apesar da repressão sistemática dos meios independentes em Angola, Rafael Marques tem conseguido – correndo grande risco pessoal – fazer incidir uma luz no abuso de poder ao nível mais elevado com coragem e persistência”, destacou, na altura, a directora-executiva do IPI.

Barbara Trionfi lembrou que, através dos seus artigos, livros e pesquisa, "o senhor Marques tem levado a cabo o tipo de jornalismo de vigilância que os meios controlados pelo Estado do país não conseguem concretizar, proporcionando um serviço essencial ao público angolano e à comunidade internacional”.

O Prémio Herói Mundial da Liberdade de Imprensa do IPI homenageia jornalistas que deram uma contribuição significativa para a promoção da liberdade de imprensa, particularmente aqueles que colocam em risco a sua integridade pessoal.

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