Washington disse que a Rússia e os Estados Unidos vão nomear equipas para negociar um caminho para acabar com a guerra na Ucrânia o mais rapidamente possível, depois de as superpotências se reunirem na terça-feira, 18, na Arábia Saudita, sem Kiev ou a UE.
No entanto, não foram divulgados pormenores sobre um possível encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin, na reunião de Riade, as primeiras conversações oficiais de alto nível entre Washington e Moscovo desde a invasão da Ucrânia em 2022.
Alguns líderes europeus, alarmados com a revisão de Trump da política dos EUA em relação à Rússia, temem que Washington faça concessões sérias a Moscovo e reescreva o acordo de segurança do continente num acordo ao estilo da Guerra Fria entre superpotências.
Na terça-feira, o Secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, e o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, concordaram em “nomear as respectivas equipas de alto nível para começar a trabalhar num caminho para acabar com o conflito na Ucrânia o mais rapidamente possível”, disse o Departamento de Estado.
Washington acrescentou que as partes também concordaram em “estabelecer um mecanismo de consulta” para abordar os “factores de irritação” nas relações entre a Rússia e os Estados Unidos, referindo que as partes iriam lançar as bases para uma futura cooperação.
A Rússia deu menos pormenores sobre os resultados das conversações, afirmando que: “Discutimos e delineámos as nossas posições de princípio e concordámos que equipas separadas de negociadores entrarão em contacto sobre este assunto na devida altura.”
“Ainda é difícil falar sobre uma data específica para uma reunião entre os dois líderes”, disse Yuri Ushakov, assessor de política externa de Putin.
A Rússia esboçou algumas das suas perspectivas sobre futuras conversações para pôr fim aos combates na Ucrânia, argumentando que a resolução da guerra exigia uma reorganização dos acordos de defesa da Europa.
Moscovo há muito que exige a retirada das forças da NATO da Europa Oriental, considerando a aliança como uma ameaça existencial no seu flanco.
“Uma resolução duradoura e viável a longo prazo é impossível sem uma consideração abrangente das questões de segurança no continente”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, aos jornalistas na terça-feira, respondendo a uma pergunta da AFP.
Antes de invadir a Ucrânia em fevereiro de 2022, Moscovo exigiu que a NATO se retirasse da Europa Central e Oriental.
Os líderes europeus realizaram uma reunião de emergência em Paris um dia antes, mas tiveram dificuldade em manter uma frente unida.
O Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que se encontrava na Turquia na terça-feira, disse na véspera das conversações que não tinha sido convidado e que não iria “reconhecer quaisquer coisas ou acordos sobre nós sem nós”.
Isolada pelo Ocidente durante três anos, a Rússia espera um “restabelecimento” dos laços com os Estados Unidos e um regresso à cena internacional.
No Palácio de Diriyah, em Riade, as negociações começaram sem apertos de mão visíveis.
Como iniciar as negociações?
Tanto a Rússia como os Estados Unidos consideraram a reunião de terça-feira como o início de um processo potencialmente longo e minimizaram as perspectivas de um avanço.
Ushakov, da Rússia, disse aos meios de comunicação estatais que as conversações iriam discutir “como iniciar as negociações sobre a Ucrânia”.
Trump disse que quer acabar com a guerra na Ucrânia, mas até agora não apresentou nenhum plano concreto. Os Estados Unidos têm insistido com ambas as partes que terão de ser feitas concessões se as conversações de paz se concretizarem.
Na véspera da cimeira, a Rússia afirmou que não se pode sequer “pensar” em ceder o território tomado à Ucrânia.
O Kremlin afirmou na terça-feira que a Ucrânia tem o “direito” de aderir à União Europeia, mas não à aliança militar da NATO.
Disse ainda que Putin estava “pronto” para negociar com Zelensky “se necessário”, embora tenha repetido o seu questionamento sobre a sua “legitimidade” - uma referência ao facto de o seu mandato de cinco anos ter expirado no ano passado, apesar da lei ucraniana não exigir eleições em tempo de guerra.
O líder ucraniano esteve na Turquia na terça-feira para discutir o conflito com o Presidente Recep Tayyip Erdogan.
Na quarta-feira, deverá deslocar-se à Arábia Saudita, embora tenha afirmado que não tenciona reunir-se com responsáveis norte-americanos ou russos.
Esforços para a paz
A União Europeia, que se ressente de uma série de discursos de funcionários de Trump indicando que Washington não vê Moscovo como uma ameaça, disse que ainda quer ser “parceira” dos Estados Unidos em quaisquer negociações de tréguas.
A administração de Trump não deu uma resposta clara sobre se a UE participaria e Moscovo afirmou que não vê qualquer interesse em que a Europa tenha um lugar à mesa.
“A Europa trouxe mais para a mesa de negociações do que qualquer outra entidade”, afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, nas redes sociais. “Queremos fazer parceria com os EUA para conseguir uma paz justa e duradoura para a Ucrânia”.
A China, um dos principais aliados da Rússia, também saudou os “esforços para a paz” na terça-feira. “Ao mesmo tempo, esperamos que todas as partes e intervenientes possam participar”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Guo Jiakun.
A Rússia apresentou um otimismo cauteloso em relação às conversações.
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