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Quénia: Fome e seca no Norte enquanto comida apodrece no Centro


Deslocados internos, vítimas da seca e da fome no Quénia
Deslocados internos, vítimas da seca e da fome no Quénia

"Nós deitamos comida fora e eles andam a pedir aos estrangeiros” – agricultor queniano

No Quénia, há 3 milhões e meio de pessoas a passar fome no Norte do país E no centro, há toneladas de comida a apodrecer… Isto porque as más estradas, meios de transporte limitados e poucos armazéns estão a travar o caminho à distribuição… Há apelos à intervenção do Governo, que ainda não fez nada e recusou um pedido de entrevista da Voz da América.

O Quénia vive a maior seca dos últimos 50 anos, e há milhões de pessoas com fome. Mas no distrito de Kinangop, a uma hora e meia de Nairobi os agricultores nem sequer podem oferecer a sua comida a quem tem fome.

E isso porque nesse luxuriante distrito de 1,400 kms quadrados no Vale de Rift, há comida mas não há estradas em condições, nem camiões suficientes. Os agricultores não conseguem vender os produtos agrícolas ao mercado. E como não os podem vender, os preços baixaram.

Numa viagem àquela zona, a correspondente da VOA Cathy Majtenyi comprou 30 couves lombardas por um dólar e meio. E o agricultor Nahashon Gitau diz que o pior é perder 25% da sua colheita, quando há pessoas com fome.

“É o governo que deve tomar medidas – talvez proporcionar transporte. Depois, podem comprar a um bom preço e dar (os alimentos) àquelas pessoas, em vez de pedirem comida ao estrangeiro, o que é muito mau. Nós deitamos comida fora e eles andam a pedir aos estrangeiros” – diz Gitau

Ele crê que se o governo lhe pagasse um peço justo, a sua quinta de três hectares podia contribuir para ajudar a alimentar as vítimas famintas da seca.

“Aqui da minha quinta, eu poderia vender em cada estação, talvez, 100 sacos de batatas e 10 mil couves lombardas – três vezes por ano. Eu consigo produzir isso e há famílias que conseguem produzir ainda mais.”

A responsável pela administração local em Kinangop disse à VOA que o assunto não é uma prioridade devido à burocracia. Segundo Peninnih Dzombo, não há um fórum para responder a esse problema.

O seu departamento funciona por relatórios e depende de quem lê o relatório decidir o que é uma prioridade. E, neste momento, ainda ninguém determinou que este problema é uma prioridade – disse Dzombo.

Adianta que, mesmo que fosse prioridade, o município não tem dinheiro para arranjar as estradas e facilitar o acesso dos agricultores ao mercado. Em Nairobi, o Ministério do Estado para Programas Especiais, responsável pela assistência às vítimas da seca, ignorou repetidos pedidos de entrevista da VOA.

Peritos dizem que, com um sistema próprio a funcionar, o Quénia pode alimentar-se mesmo em tempos de seca. Mas sem eles, fica dependente da ajuda externa que faz baixar os preços dos produtos locais, diminui a produtividade agrícola no país, e aumenta a dependência das populações.

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