A matemática é um bicho de sete cabeças? Para algumas pessoas até pode ser, mas não para o estudante de engenharia mecânica Moisés Ricardo Mpova. O jovem, que estuda na Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, está desenvolvendo um projecto para inspirar, motivar e incentivar crianças que gostam de matemática e estimular aquelas que não gostam.
Em entrevista à Voz da América, Moisés falou sobre "Matemática com os kandengues," um projecto social sem fins lucrativos, que será implementado no Cazenga, Angola, assim que um espaço físico for disponibilizado.
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Segundo Moisés, um pedido já foi feito à administração do município para que ele tenha acesso a uma sala no Centro de Formação Profissional. O jovem agora aguarda ansiosamente a resposta.
A equipa inicial é composta por cinco amigos e colegas do jovem que já se formaram na universidade e estão em Angola. Moisés contou que os amigos lhe pediram que o projecto não fique apenas no Cazenga.
"Comecei no Cazenga porque é o município que me viu nascer. Eu acredito que antes de mudar o mundo a mudança deve começar na nossa casa. A minha casa é Cazenga. Minha casa é Luanda. Minha casa é Angola. Minha casa é África. E poderia também fazer o projecto no Brasil, mas a mudança deve começar em minha casa".
O futuro engenheiro mecânico, que também é poeta - publicou o seu primeiro livro de poesias intitulado “A Fonte da Inspiração" em setembro de 2018 no Brasil - disse que a ideia é começar com uma turma de 20 kandengues. Moisés explicou que a palavra kandengue "kandenge" é de origem quimbundo, diminutivo de ndengue, e significa criança, pequeno ou mais novo.
O jovem gostaria que "Matemática com os kandengues," funcionasse o ano inteiro, ou pelo menos seis meses. Mas isso vai depender da equipa e dos voluntários que aderirem ao projecto, já que Moisés está fazendo a sua formação no Brasil.
"Ficarei muito feliz se tivermos uma equipa grande disposta a se doar a outras pessoas".
O amanhã se faz hoje," Moisés Mpova
A grande preocupação em formar o futuro do amanhã foi o que motivou Moisés a desenvolver "Matemática com os kandengues".
"Por ser um ramo do conhecimento extremamente útil na resolução de problemas, sejam eles cotidianos, sejam de carácter técnico-científico. Quanto mais cedo o kandengue despertar o gosto por ela melhor será o aprendizado".
O estudante de engenharia mecânica sublinhou que a teoria não é suficiente porque é com a prática que nós nos tornamos eficientes. "Para sermos bons amanhã, precisamos practicar hoje".
Ele pediu que as pessoas doem-se um pouco mais já que é tão importante que os kandengues aprendam os fundamentos da matemática cedo, porque assim estarão mais preparados para o futuro.
"Qualquer dificuldade que o kandengue tiver nessa fase infanto-juvenil se não for sanada se refletirá futuramente. Então eu falo isso porque tive dificuldades. Eu pensava: ah não o professor faltou à aula e eu não aprendi isso, pra mim tá bom. Se pudesse recuar ... me dedicaria mais quando comecei a aprender esses fundamentos".
Moisés Mpova concluiu a entrevista deixando uma mensagem. "É importante que os educadores encontrem uma forma de fazer com que os kandengues se sintam estimulados em aprender matemática, e não obrigados. Esse projecto visa em transformar estímulos externos em auto-motivação. No que tange à matemática muitos kandengues andam desestimulados e o que mais desestimula é errar e ficar com medo, com vergonha. Ser desmoralizado diante dos colegas e amigos. Portanto, a melhor forma de ajudar é acompanhar o kandengue desde cedo para que ele adquira a base. Consequentemente é a base que dá confiança".
Além de ser estudante de engenharia mecânica na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Moisés Ricardo Mpova é autor, declamador, membro da Academia de Letras e Artes de Florianópolis (ADLA – Brasil), membro do Movimento Lev’Arte Angola e recentemente foi outorgado como Membro Internacional da Cultive “Art Littérature et Solidarité".