O Presidente russo, Vladimir Putin, prometeu, quinta-feira, 5, o seu “apoio” à candidata democrata Kamala Harris, atual vice-presidente dos Estados Unidos, nas eleições presidenciais norte-americanas de novembro, um dia depois de Washington ter feito acusações de ingerência eleitoral que foram rejeitadas por Moscovo.
Na quarta-feira, as autoridades americanas tomaram medidas, incluindo processos penais e sanções, por estas tentativas de “influenciar” o resultado das eleições presidenciais de 5 de novembro entre Harris e o antigo Presidente Donald Trump.
Os serviços secretos norte-americanos já tinham concluído que houve uma ingerência russa nas eleições presidenciais de 2016 e 2020 para favorecer o candidato republicano Donald Trump, uma alegação que Trump nega categoricamente e que a diplomacia russa desmentiu.
Sem responder diretamente a estas acusações, Vladimir Putin disse na quinta-feira que o Presidente dos EUA, Joe Biden, tinha “recomendado aos seus eleitores que apoiassem a Sra. Harris, por isso também a apoiaremos”, num fórum económico em Vladivostok.
“Em segundo lugar, ela tem um riso tão expressivo e contagiante que mostra que está a ir bem”, acrescentou. O riso de Kamala Harris é frequentemente criticado pelos conservadores americanos, liderados por Donald Trump.
O presidente russo disse que o candidato republicano Donald Trump, antigo ocupante da Casa Branca de 2017 a 2021, impôs “mais sanções à Rússia do que qualquer presidente” antes dele, e que Kamala Harris “talvez se abstenha de fazer esse tipo de coisas”.
“Mas, no final do dia, a escolha pertence ao povo americano”, acrescentou Vladimir Putin.
Em fevereiro, o presidente afirmou que Joe Biden, na altura apontado como o candidato democrata, era mais “previsível” e “experiente” do que Donald Trump.
No entanto, estas declarações foram recebidas com ceticismo pelos observadores americanos, que acreditam que Moscovo tem preferência pelo bilionário americano, até porque este poderia reduzir a ajuda à Ucrânia.
Suspeita-se, assim, que Putin esteja a tentar dissimular as verdadeiras intenções da Rússia, fingindo apoiar os democratas.
Donald Trump já manifestou no passado a sua admiração pelo Presidente russo e afirmou em várias ocasiões que resolveria “em 24 horas” o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, iniciado em fevereiro de 2022.
Nos últimos meses, tem criticado fortemente os milhares de milhões de dólares gastos pelos Estados Unidos para apoiar Kiev face à ofensiva de Moscovo.
Kamala Harris, por seu lado, prometeu no final de agosto que iria “apoiar firmemente a Ucrânia”.
A “campanha” americana
Na quarta-feira, 4, as autoridades norte-americanas tomaram uma série de medidas, nomeadamente contra os responsáveis da empresa de comunicação russa RT, em resposta às tentativas de ingerência nas eleições de novembro, que atribuem à Rússia.
Vladimir Putin estava “ciente” destas operações de ingerência eleitoral, segundo a Casa Branca.
A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, disse na quinta-feira que as medidas tomadas contra os funcionários da RT faziam parte de uma “campanha de informação (...) que tem sido preparada há muito tempo e é necessária à medida que nos aproximamos da fase final do ciclo eleitoral”.
Moscovo está “naturalmente” a preparar uma resposta a estas novas sanções que “fará tremer toda a gente”, assegurou à agência noticiosa estatal Ria Novosti.
As autoridades norte-americanas não indicaram claramente qual o campo, democrata ou republicano, que teria beneficiado da alegada interferência na campanha de 2024.
O procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland, limitou-se a afirmar que, de acordo com a análise dos serviços secretos, “as preferências da Rússia não se alteraram desde as últimas eleições”, parecendo indicar que Moscovo estava a pressionar o candidato Trump.
“Inevitável” - O que está a acontecer?
Estes anúncios surgem numa altura em que as relações entre a Rússia e os Estados Unidos estão geladas e só pioraram desde a ofensiva russa na Ucrânia, em fevereiro de 2022.
A RT, lançada em 2005, tem sido largamente restringida ou proibida de emitir pelos países ocidentais, que a acusam de tentar desestabilizar as suas democracias através da difusão de informações falsas.
O canal RT ridicularizou as últimas acusações americanas, referindo-se ao “regresso dos clichés banais de 2016”.
“Na vida, três coisas são inevitáveis: a morte, os impostos e a interferência da RT nas eleições americanas”, ironizou o canal.
As eleições presidenciais norte-americanas de 2016 levaram Donald Trump à Casa Branca, que abandonou depois de perder para o democrata Joe Biden nas eleições de 2020.
As relações com a Rússia tornaram-se uma questão de cunha partidária nos EUA, um desenvolvimento impensável há décadas atrás, quando a União Soviética era vista como a principal ameaça para a maioria dos americanos.
Alguns conservadores americanos vêem o Presidente russo como o guardião dos valores cristãos tradicionais, nomeadamente no que se refere à questão dos direitos LGBT+.
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