O Plano Nacional de Produção de Grãos em Angola (Planagrão), apontado pelo Governo como exemplo de crescimento do agronegócio no país, peca por ignorar aspectos históricos e tradicionais da agricultura, sendo conduzido mediante relatórios longe da realidade, disseram produtores nacionais contactados pela VOA.
Em reacção à posição do ministro da Economia e Planeamento, Mário Caetano João, na entrevista recente à Voz da América, na última semana, homens do campo realçam que falhanços anteriores determinam esta iniciativa, enquanto a Associação Industria Angolana (AIA) avisa que há margem para a expansão do
agro-negócio.
Líder de uma cooperativa do Dombe Grande, em Benguela, mas com passagens por vários pontos do país, o produtor Albino Fernandes diz que vantagens, se é que existem, só mesmo numa eventual descoberta de outras áreas de cultivo, assinalando que faltam resultados do ponto de vista histórico.
“Eu não consigo imaginar o Norte a produzir feijão, não tem histórico para isso. O que falta é identificar as áreas que desde sempre produziram, temos o Caluquembe (Huíla), uma região com histórico de ginguba, feijão e milho, tudo em grande escala, depois temos o Bié, Huambo e Benguela, que produz o ano todo”, refere o técnico, lembrando que “estas províncias ficaram de fora, aparecendo o Leste, por isso esses relatórios só mesmo para apresentar a população”.
Há quatro anos, bem antes do Planagrão em vigor, já o produtor Cabral Sande tinha sido convidado para uma iniciativa que visava relançar a produção de grãos, avaliada em 5 mil milhões de Kwanzas, cerca de 10 milhões de dólares norte-americanos.
Para sustentar a ideia de que as coisas não andam, Sande indica que na sua área, a comuna da Canjala, há um grande potencial esquecido.
“Não funciona, estou a falar de um território que tem uma vala de irrigação artificial superior a 300 quilómetros, 30 mil hectares de terras aráveis mas que não tem sequer um quilo de fertilizantes. Se isso funcionasse, já teríamos resultados, não nos esqueçamos que o ciclo dos grãos, quer o milho, quer feijão, soja ou arroz, nunca é superior a 4 meses. Ir falar nos Estados Unidos da América de uma política que a nível nacional não existe …”, critica Cabral Sande.
Na entrevista em Washington, Mário Caetano João assegura que "o agronegócio tem sido o principal motor da diversificaçao da economia angolana, que saiu de 57 por cento de participação no Produto Interno Bruto (PIB) não pretrolífero em 2011 para cerca de 75 por cento em 2022".
O presidente da Associação Industrial Angolana, José Severino, que lembra propostas apresentadas ao Executivo, sublinha que o agronegócio tem margem de crescimento, podendo até impulsionar o turismo.
“Há uma grande preocupação, é que às vezes vemos o agronegócio só na vertente alimentar, mas não. Até inclui o turismo, se fores à África do Sul, por exemplo, tens propriedades agrícolas com resorts. Temos o café, já produzimos 230 mil toneladas, podemos relançar em sete províncias, o mel, o óleo de palma, o cajú e muito amendoim”, sugere aquele gestor industrial.
Numa recente entrevista à Voz da América, a propósito das necessidades em termos de cereais, o ministro da Agricultura e Florestas, António Francisco de Assis, que falou de vários estrangulamentos, ressaltou que os fertilizantes não chegam a zonas do país com potencial para a produção de alimentos.
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