As perspectivas de produção de petróleo nas bacias de Benguela e Namibe, com reservas estimadas em 7 biliões de barris, alimentam o optimismo de um Governo confiante no crescimento desta indústria, tal como a inquietação de associações que temem pela extinção de espécies nos maiores pólos pesqueiros de Angola.
No dia da abertura do concurso público para a licitação de sete blocos, aberto a empresas nacionais e estrangeiras, é questionado o facto de não se estar a dar voz à população sobre um assunto que mexe com o ambiente e a economia de milhares de famílias.
Implantada no Lobito há 15 anos, a Angoflex, empresa produtora de umbilicais, cabos utilizados na exploração de petróleo, vê nas bacias marítimas de Benguela e do Namibe uma excelente oportunidade de negócio, segundo a directora-geral, Isabel Paulo do Nascimento.
‘’O país pode contar sempre com os nossos serviços, temos de ser seleccionados e competitivos. Por isso não ficámos com muitos projectos, temos de baixar os custos fixos, um trabalho que já foi feito’’, explica a gestora.
A expectativa desta empresa detida em 30 por cento pela Sonangol contrasta com a inquietação da Associação de Pescadores Artesanais de Benguela, com mais de 600 filiados.
O presidente da organização, João Fernando Capiri, sugere equilíbrios e alerta para a grandeza da indústria petrolífera.
‘’Qualquer indústria destas pode sempre criar problema, como a extinção de espécies de pescado que alimenta muitas famílias. Há sempre o risco de derrame de petróleo’’, sustenta Capiri.
Por seu lado, o líder de uma associação de jovens defensores do ambiente, Martins Domingos, considera que não se faz o trabalho de casa, quando a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG), prepara já a apresentação no exterior dos termos do concurso público.
‘’Deviam ter feito uma conferência nacional para saber se os povos de Benguela e Namibe querem este petróleo. As perfurações estão já a provocar fugas de espécies marinhas, muita atenção que o petróleo não alimenta os cidadãos, até porque as famílias não se beneficiam do orçamento do Estado’’, critica Martins.
Confrontado pela VOA, o governador provincial de Benguela, Rui Falcão, assegura que vão ser observados todos os cuidados.
‘’Fizemos um levantamento, por isso quando estiverem criadas as condições faremos tudo. Estes projectos não andam sem que se respeitem as regras’’, garante Falcão,
Está para breve o início da exploração em Benguela e Namibe, para qual o Governo lança o concurso nesta quarta-feira, 2, mas só daqui a oito anos, segundo especialistas, a indústria petrolífera angolana, com uma produção de 1,471 milhões de barris/dia, começará a sentir os efeitos.