O Presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump que assume a Casa Branca no final da manhã desta sexta-feira, 20, prometeu fazer grandes mudanças, mas os seus planos para os primeiros 100 dias podem colidir com a realidade da política e da burocracia de Washington.
Em Outubro, ele apresentou um "plano de acção de 100 dias para fazer a América grande de novo", em que propõe uma série de passos que, segundo disse, trará "honestidade, responsabilidade e mudanças aWashington".
As acções visam proteger os empregos americanos, livrar Washington da "corrupção e interesses especials" e restaurar a lei e a ordem", anunciou na ocasião.
A burocracia
Um dos grandes obstáculos não partidários que Trump enfrentará, no entanto, é a pesada máquina burocrática do Governo, uma queixa de todos os anteriores presidentes.
"A burocracia americana é muito lenta", diz John Hudak, vice-director da Brookings Institution, do Centro de Gestão Pública.
Por isso, algumas acções que o novo Presidente Donald Trump prometeu tomar durante os seus primeiros 100 dias, como a remoção de muitos regulamentos, podem esperar por anos.
Há discordância dentro do seu próprio partido sobre outras acções, como o seu plano de gastos milionários em infra-estruturas para criar empregos.
Obamacare
"Isso não é algo que os republicanos no Congresso vão querer gastar montantes significativos de dinheiro sem compensações", explica Hudak.
A promessa de Trump de revogar imediatamente e substituir o popularmente conhecido por Obamacare enfrentará obstáculos, mesmo que haja um acordo bipartidário sobre a necessidade de reforma.
"Acho que a batalha será intensa", disse James Thurber, professor da Universidade Americana e fundador do Centro de Estudos do Congresso e da Presidência.
Ele previu uma legislação para revogar a lei de acesso à saúde que passará facilmente, mas a sua substituição "será difícil", segundo Thurber.
O que pode fazer
Entretanto, analistas consideram que Donald Trump poderá eliminar vários etapas dos processo burocrático através do uso de poderes presidenciais.
"No primeiro dia, ele é capaz e tem o poder de rejeitar as ordens executivas de Obama, e há muitas das quais ele quer se livrar", disse Thurber.
Por exemplo, Trump prometeu "cancelar todas as medidas executivas que ele considera inconstitucionais do Presidente Obama".
"Eu acho que legalmente pode fazê-lo", disse Obama em entrevista à National Public Radio, em Dezembro, e concluiu: "Se ele quiser reverter algumas dessas regras, isso faz parte do processo democrático".
Tais ações variam de restrições na política de imigração e admissão de refugiados a ordens de ética e tarifas aduaneiras.
Donald Trump prometeu começar imediatamente a remover os mais de dois milhões de imigrantes indocumentados com antecedentes criminais.
Ele também disse que vai suspender rapidamente a imigração de "regiões propensas ao terrorismo", onde não pode ocorrer um exame extremo.
Congresso
Os especialistas prevêem que Trump irá desfrutar da “lua de mel” habitual com o Congresso durante os seus primeiros meses no cargo, acrescido do facto de estar controlado pelos republicanos.
Os principais pontos da agenda incluem a revogação do Obamacare, a reforma da imigração e a aprovação de uma ampla reforma tributária.
No entanto, mesmo com uma maioria republicana, algumas das propostas controversas de Trump podem encontrar problemas na sua aprovação.
Do outro lado, considera o analista John Hudak, "os democratas no Congresso vão incomodar Trump.
Além fronteiras
A nível internacional, o novo Presidente americano avisou que vai pressionar Pequim a deixar a moeda chinesa se valorizar - o que tornaria os produtos chineses menos competitivos no exterior - e a retirar a concessão de “subsídios” injustos à indústria chinesa.
Trump afirmou que poderá impor uma taxa de até 45 por cento a importações chinesas como forma de pressão.
Analistas apontam, porém, que uma guerra comercial contra a China poderia prejudicar empresas americanas que fabricam componentes no país asiático.
Entretanto, caso a China decida retaliar, as companhias americanas poderão enfrentar dificuldades adicionais para exportar para o país asiático.
Donald Trump defende também mudanças no Nafta, o acordo comercial entre Estados Unidos, México e Canadá que gere empregos para trabalhadores americanos.
Ele ameaçou que os Estados Unidos sairão do acordo e passarão a cobrar altas taxas de importações de produtos mexicanos.
Especialistas apontam que, assim como no caso da China, a medida poderia encarecer produtos nos Estados Unidos e prejudicar empresas americanas com ampla operação no México.