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Primeiras demissões em Cafunfo depois de confrontos mortais em Janeiro


Paulo de Almeida, comandante geral da Polícia Nacional, de Angola
Paulo de Almeida, comandante geral da Polícia Nacional, de Angola

Administrador do Cuango e dois polícias foram demitidos

A demissão de dois polícias, incluindo um, inspector-chefe, por alegado envolvimento nos incidentes de 30 de Janeiro na vila de Cafunfo, e a exoneração do administrador do Cuango, na província angolana da Lunda Norte, estão a ser entendidos por analistas como o reconhecimento de excessos na actuação das autoridades contra os manifestantes naquela região.

O governador da Lunda Norte, Ernesto Muangala, nomeou, na última sexta-feira, 19, Gastão Cahata para o cargo de administrador do município do Cuango, em substituição de Guilherme Cango que, entretanto,não foi indicado para nenhum outro posto.

O advogado e líder da Associação Mãos Livres, Salvador Freire considera que os dois eventos não estão dissociados dos crimes cometidos pela Polícia Nacional (PN), na repressão que se seguiu à manifestação de cidadãos afectos ao chamado Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe.

“A corda arrebentou do lado mais fraco”, afirma Freire, quem acrescenta ser o Estado o principal responsável pelos crimes cometidos por entender que os “agentes da ordem representaram o Estado angolano”.

Jordan Muakabinza, activista dos direitos humanos em Cafunfo, considera , por seu turno, que a demissão dos protagonistas da repressão e de maus-tratos dos manifestantes não será suficiente enquanto não houver uma investigação sobre os tumultos e não for afastado do cargo o actual governador Ernesto Muangala, a quem acusa de “gerir a província em benefício próprio".

O activista diz também que o anúncio da abertura de um concurso para a construção de infraestruturas em Cafunfo não passou de uma “operação de propaganda” face à pressão popular sobre a situação económica e social.

Um dos dois polícias foi identificado como o comandante da Polícia Fiscal do Cuango que, segundo um despacho do Comandante-Geral da Polícia,foi demitido devido a "infrações disciplinares graves", nomeadamente ofensas corporais e profanação de cadáver.

O inspector-chefe Eduardo Tomé e o agente Jonilto Txijica incorreram em "actos de ofensas corporais contra detidos e profanação de cadáver, aquando da invasão da esquadra policial de Cafunfo", a 30 de Janeiro, segundo o despacho do comandante-Geral Paulo de Almeida.

"Os efectivos demitidos devem fazer o espólio de todo o uniforme da Polícia Nacional de Angola, bem como os documentos de identificação policial", acrescenta o documento.

Os confrontos

Na versão da PN, cerca de 300 elementos do Movimento do Protectorado da Lunda Norte tentaram invadir a esquadra, tendo sido mortas seis pessoas nos confrontos com as autoridades, que tentaram defender-se.

A versão oficial foi sucessivamente contrariada por testemunhas locais, organizações não-governamentais e partidos da oposição angolana que apontam para mais de 50 vítimas, entre mortos e desaparecidos, afirmando que se tratava de uma tentativa de manifestação pacífica.

A embaixadora da União Europeia em Angola, Jeannette Seppen, exprimiu "sérias preocupações" sobre os incidentes de Cafunfo, num encontro com o ministro angolano da Justiça e Direitos Humanos, Francisco Queirós, no qual defendeu um inquérito sobre o assunto.

Obras

Ainda na sequência dos acontecimentos de 30 de Janeiro, a administração municipal do Cuango anunciou recentemente o lançamento de um concurso público para iluminação pública, construção de escolas e centro de saúde em Cafunfo.

Com o prazo de execução de um ano, o concurso inscreve 12 projetos, nomeadamente a reabilitação e expansão do sistema de abastecimento de água do Cuango, iluminação pública na sede municipal, Cafunfo e Luremo, construção de escola de sete salas e construção de duas escolas de quatro salas de aula.

A construção de um centro de saúde no bairro Elevação (Cafunfo), de pontes e colocação de manilhas sobre os rios Cabunda, Cole e Txicunhe e construção de um armazém para escoamento de produtos agrícolas fazem parte das obras incluídas no concurso.

A terraplanagem de 45 quilómetros de via terciária, troço do Bala-bala ao bairro Canguanda (Cafunfo), a aquisição de mobiliários para a administração e direcções municipais, aquisição de máquinas para o saneamento básico no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios, apetrechamento da escola 4 de abril e o fornecimento de merenda escolar constam também do concurso público.

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