Presidentes africanos continuam a felicitar Donald Trump pela sua vitória nas eleições da passada terça-feira, 5, nos Estados Unidos.
Em Joanesburgo, a Voz da América falou com analistas políticos sobre o que o segundo mandato do Presidente Trump poderá significar para o continente.
A vitória de Donald Trump sobre a candidata democrata, a vice-presidente Kamala Harris, dominou na quarta-feira a imprensa em África que refletiu alguma ansiedade em determinados setores.
Na África do Sul, o jornal Business Day publicou uma coluna de opinião intitulada “O regresso de Trump anuncia uma abordagem mais dura dos EUA em relação a África”, enquanto outro jornal local, The Sunday Times, fez uma sondagem aos leitores: “ Estão preocupados com a possibilidade de Donald Trump ser eleito?”
Um cartoon do conceituado artista sul-africano Zapiro, publicado no jornal Daily Maverick, retratou um globo assustado a assistir á televisão, enquanto chegavam os resultados das eleições nos EUA.
Os mercados também foram afetados, com a moeda da África do Sul, o rand, a cair quase 3% com as notícias nas primeiras horas da quarta-feira.
Donal Trump inspira opiniões divergentes no continente, tendo-se rido de alguns, ao chamar aos países africanos um nome depreciativo no seu primeiro mandato, e sendo visto positivamente por outros como uma espécie de líder “homem forte”.
Steven Gruzd, analista político do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais, afirma, em conversa com a Voz da América, que Trump não prestou muita atenção a África no seu primeiro mandato e não espera que esta posição mude.
“África não será, de todo, uma prioridade para a segunda Administração Trump e não creio que devamos esperar muito. Penso que também veremos um mundo com Estados Unidos muito diferentes na forma de atuar e os países africanos terão de decidir como lidarão com isso”, estima Gruzd.
Por seu lado, Asanda Ngoasheng, analista independente na Cidade do Cabo, diz acreditar que a Presidência de Trump afetará África em termos de comércio, com a África do Sul a ver possivelmente as suas exportações para os EUA reduzidas.
Ngoasheng acrescenta que o financiamento da saúde pública para África também poderá ser afetado, especialmente para a saúde reprodutiva.
Da mesma forma, qualquer redução das contribuições dos EUA para as Nações Unidas terá efeitos negativos no continente.
“Donald Trump deixou muito claro que a sua Administração será uma administração que dará prioridade à América. … Isto terá implicações para África”, conclui Ngoasheng.
Como é protocolar, dirigentes de todo o mundo felicitaram o vencedor das eleições nos EUA.
O Presidente queniano, William Ruto, que fez recentemente uma visita de Estado a Washington a convite do Presidente Joe Biden, elogiou o que chamou de “liderança visionária, ousada e inovadora” de Trump.
O Chefe de Estado nigeriano, Bola Tinubu, disse esperar que a Presidência de Trump inaugure uma era de “parcerias económicas e de desenvolvimento benéficas e recíprocas” entre África e os EUA.
Cyril Ramaphosa, da África do Sul, afirmou que espera continuar uma “parceria mutuamente benéfica” entre os dois países.
As declarações surgem numa altura em que os governos africanos esperam que os EUA renovem no próximo ano a Lei de Crescimento e Oportunidades para África, ou AGOA, que dá a alguns países acesso isento de impostos ao mercado americano.
No entanto, o Presidente das Seicheles tem outras preocupações sobre o que o segundo mandato de Trump poderá significar para o seu país insular, que está particularmente ameaçado pelas alterações climáticas e pela subida do nível do mar.
“Estamos a atravessar uma crise climática, então será que os EUA vão sair mais uma vez do Acordo de Paris? ...Qual será o posicionamento do Presidente Trump?”, questionou Wavel Ramkalawan.
Ao falar à imprensa em Joanesburgo, Ramkalawan referiu-se ao facto de, no seu primeiro mandato, Trump ter retirado os EUA do Acordo de Paris que visa limitar o aquecimento global.
Washington regressou ao acordo com o Presidente Biden.
Texto de Kate Bartlett
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