O Presidente do Ruanda, Paul Kagame, disse concordar com o Governo dos Estados Unidos sobre a necessidade de um cessar-fogo no leste do Congo, mas não deu qualquer indicação de ceder aos apelos para que as tropas ruandesas e os rebeldes M23 que apoiam se retirem de Goma.
Os rebeldes entraram em Goma, a maior cidade do leste da República Democrática do Congo (RDC), na segunda-feira, 27, na pior escalada de um conflito de longa duração em mais de uma década, deixando os hospitais sobrecarregados com o tratamento de pacientes com ferimentos de bala, morteiro e estilhaços.
Os Estados Unidos instaram o Conselho de Segurança das Nações Unidas, na terça-feira, a considerar medidas não especificadas para travar a ofensiva rebelde, que obrigou dezenas de milhares de pessoas a abandonar as suas casas. O Conselho tem autoridade para impor sanções.
Em Goma, a capital da província de Kivu do Norte, na República Democrática do Congo (RDC), lojas e casas foram saqueadas, mas, após vários dias de intensos combates, a cidade estava em grande parte calma, com exceção de alguns tiroteios esporádicos na quarta-feira, disseram os residentes.
“Tive uma conversa produtiva com o Secretário (de Estado Marco) Rubio sobre a necessidade de garantir um cessar-fogo no Leste da RDC e abordar as causas profundas do conflito de uma vez por todas”, escreveu Kagame no X na quarta-feira, 29.
Rubio disse a Kagame que Washington estava “profundamente preocupada” com a escalada do conflito de três décadas, que tem as suas raízes nas longas consequências do genocídio no Ruanda e na luta pelo controlo dos recursos minerais do Congo.
O Congo e o chefe das Forças de Manutenção da Paz da ONU afirmaram que as tropas ruandesas estão presentes em Goma, apoiando os seus aliados do M23.
O Ruanda afirmou que está a defender-se contra a ameaça das milícias congolesas, sem comentar diretamente se as suas tropas atravessaram a fronteira.
“O Secretário apelou a um cessar-fogo imediato na região e a que todas as partes respeitem a integridade territorial soberana”, afirmou o Departamento de Estado dos EUA num comunicado.
O exército congolês e o ruandês trocaram tiros através da sua fronteira comum na segunda-feira, segundo fontes da ONU, enquanto os rebeldes tentavam consolidar o controlo de Goma, uma porta de entrada para o comércio de minérios valiosos de estanho e tântalo, pela segunda vez em 13 anos.
Tiroteios esporádicos e pilhagem
Na terça-feira, 28, centenas de soldados governamentais desarmados e combatentes das milícias sentaram-se no campo de futebol em Goma, enquanto outros se alinharam no que os combatentes do M23 descreveram como um processo de desarmamento, de acordo com um vídeo não verificado visto pela Reuters.
“Explosões esporádicas e tiroteios ainda são ouvidos nos bairros periféricos de Goma. A noite foi calma depois de os rebeldes terem tomado o centro da cidade, mas os estabelecimentos comerciais foram saqueados. O aeroporto, a internet, a eletricidade e a água foram cortados”, disse um residente numa mensagem telefónica.
O M23 é a mais recente de uma série de insurreições de etnia tutsi, apoiadas pelo Ruanda, que têm assolado o Congo desde o genocídio, há 30 anos, quando extremistas hutus mataram tutsis e hutus moderados, tendo sido depois derrubados pelas forças lideradas pelos tutsis e dirigidas por Kagame.
O Ruanda afirma que alguns dos perpetradores expulsos têm estado abrigados no Congo desde o genocídio, formando milícias com alianças com o governo congolês, e representam uma ameaça para os tutsis congoleses e para o próprio Ruanda.
O Congo rejeita as queixas do Ruanda e afirma que o Ruanda utilizou as suas milícias para controlar e pilhar minerais lucrativos como o coltan, que é utilizado em smartphones digitais.
Na capital congolesa, Kinshasa, 1.600 km a oeste de Goma, manifestantes atacaram um complexo da ONU e embaixadas, incluindo as do Ruanda, França e Estados Unidos, na terça-feira, irritados com o que disseram ser interferência estrangeira.
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