Patrick Vaz
A dois dias de estar novamente no centro de novos megaprotestos nas cidades brasileiras, marcados para este domingo, a Presidente Dilma Roussef acompanha os movimentos com naturalidade.
Em entrevista ao canal de tv SBT, ela disse que espera que os manifestantes saiam às ruas e demonstrem as suas diferenças contra o actual governo, sem actos violentos.
"Temos que ser capazes de conviver com as diferenças. Com posições que não são as mesmas e com situações difíceis. Mas a intolerância não tem solução, ela divide um país, transforma alguns atos em processos que levam à violência. Não acredito em um Brasil fascista, porque este país é composto de várias etnias", afirmou.
Mesmo pressionada por opositores e até por alguns aliados no Palácio do Planalto, Dilma Roussef mandou um recado àqueles que desejam que ela deixe o cargo antes de 2018.
"Jamais cogitei renunciar. Não é possível que alguém discorda de um processo e pretenda tirar um representante legitimamente eleito pelo voto. Temos que aprender que a democracia exige respeito às instituições. Não é para o meu caso, é para todos os que vierem depois de mim. Acho que a cultura do golpe existe ainda, mas não acredito que tenha condições materiais de ocorrer", enfatizou.
Sobre a relação com o Congresso Nacional, Dilma negou estar isolada e disse que sempre pôde contar com os demais governantes. “Não acho que estamos num isolamento político. O fato é, eu acho que tem muita volatilidade e isso contamina o ambiente”.
Dilma Roussef ainda negou possíveis desavenças com os demais Poderes.
“Não acho que a Câmara não tem responsabilidade com país. Não acredito que pautas-bomba vão proliferar no Congresso. Não pode ter responsabilidade e não pode aceitar a teoria do quanto pior melhor. Não [se pode] permitir que a política contamine a economia. Tem de aumentar a consciência, responsabilidade em relação ao país. Todos: o Congresso, o Executivo e o Judiciário”, disse.
A Presidente também aproveitou para fazer uma autocrítica em sua primeira gestão: “Eu acredito que devia ter me esforçado ainda mais para garantir que o Brasil não tivesse tantas amarras para investir, no caso da infraestrutura. Eu poderia ter, é difícil fazer, mas poderia ter me empenhado mais, para fazer mais coisa. Sempre se pode empenhar mais”, ressaltou.
Enquanto Dilma aguarda novos protestos contra a actual gestão, neste domingo, na esfera jurídica o Tribunal de Contas da União concedeu mais 15 dias para que ela apresente novos esclarecimentos sobre as contas do Governo Federal de 2014. A corte aponta irregularidades nas chamadas “pedaladas fiscais”, manobras para aliviar, momentaneamente, as contas públicas.
O Tesouro Nacional teria atrasado repasses para instituições financeiras públicas e privadas que financiariam despesas do Governo como benefícios sociais e previdenciários. Conforme o Tribunal de Contas da União, cerca de R$ 40 bilhões estiveram envolvidos nessas manobras entre 2012 e 2014.