O presidente da UNITA, principal partido da oposição em Angola, acusou o Chefe de Estado de hipocrisia ao condenar nas Nações Unidas as mudanças constitucionais noutros países, quando o mesmo acontece em Angola.
À saída de um encontro com os líderes da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, nesta sexta-feira, 8, em declarações à rádio Ecclesia, Adalberto Costa Júnior denunciou a perda de valores referentes que tinham sido conquistados desde 2002 e o aumento do controlo das instituições por parte dos serviços secretos.
“Quando se quer um pais de estabilidade, em desenvolvimento, com investimentos, não vale a pena o Presidente ir às Nações Unidas dizer que é mau os outros Presidentes mexer nas suas constituições, quando ele esqueceu-se que mexeu na Constituição há pouco tempo, não vale a pena fazer discursos de hipocrisia quando se atenta ao Direito”, afirmou o presidente da UNITA quem revelou ter partilhado “com uma instituição de relevância” a preocupante realidade do país.
Costa Júnior destacou que o “país está a perder valores, referentes difíceis, poucos, que tinham sido conquistados na primeira fase da paz, de 2002 para cá”, e apontou “a censura retomada aos órgãos de comunicação públicos, sem restrições”.
Para o líder da oposição, a mudança dos referentes legais é um tema muito sério, "com o Governo a mudar a Constituição" em altura de pré-campanha eleitoral.
“Esperamos que com a devolução ao Parlamento sejam expurgados da lei aqueles aspectos que tinham retirado a universalidade dela”, acrescentou o líder da oposição que criticou a divisão político-adminsitrativa do país em curso, “que estamos a ouvir falar”, mas que não foi debatida.
Adalberto Costa Júnior disse que “o MPLA está desesperado perante uma perspectiva da perda do poder, perante a perspectiva do reforço do cidadão que quer aleternância, (por isso) deita a mão à manipulação das instituições sem limites”.
Congresso da UNITA é "inatacável"
Quanto à decisão do Tribunal Constitucional (TC) de anular o congresso da UNITA de 2019 que o elegeu, Costa Júnior anunciou a comunicação da posição oficial do partido ainda hoje, de “aceitar ou não o acórdão”.
Ele afirmou, no entanto, que a UNITA estava preparada para essa eventualidade “pela forma como vimos mudar presidentes no Tribunal Constitucional, (porque) não é normal que numa vivência de dois anos vermos dois presidentes demissionários e um ter usado a expressão de ´suicidio do Estado de Direito e da democracia”.
Para Adalberto Costa Júnior o congresso da UNITA “é inatacável…o que vivemos em Angola é de uma interferência sem limites de órgãos do Estado, nomeadamente dos serviços de inteligência.
Ele concluiu dizendo que o "MPLA está cansado e precisa beber ideias de democracia".