Milhares de cabo-verdianos saíram às ruas ontem, 30, para manifestar a sua oposição ao estatuto de titulares de cargos políticos aprovado na semana passada pelo Parlamento e que aumentou em 65 por cento os salários dos políticos, além de outras regalias. Hoje, os partidos políticos reagiram e o primeiro-ministro admitiu que muita coisa deve ser revista porque os consensos alcançados durante mais de uma década estão colocados em causa.
As quatro principais cidades do arquipélago foram inundadas por manifestantes, na sua maioria jovens, que protestaram contra o estatuto dos títulos de cargos políticos e pediram o veto do Presidente da República.
Os manifestantes criticaram o rol de regalias dos políticos, que, na verdade, já existiam, mas enfatizaram o aumento de 65 por cento dos salários a partir de Janeiro de 2016. Este aumento acontece num ano em que a economia do arquipélago sofre os efeitos da crise internacional, da falta de chuvas e da erupção do vulcão do Fogo, bem como uma elevada taxa de desemprego.
Os partidos políticos que aprovaram por unanimidade a nova lei defendem a sua posição e lembram que os salários dos políticos não eram actualizados desde 1997, ao contrário de outras categorias.
Ulisses Correia e Silva, presidente do principal partido da oposição, o MpD, disse em declarações à Rádio de Cabo Verde(RCV) respeitar as manifestações da cidadania, mas acusa a líder do PAICV, no poder, de as ter induzido ao pronunciar-se contra a lei que foi aprovada com os votos da bancada que suporta o partido do Governo.
A presidente do PAICV Janira Hopffer Almada, que foi eleita quando já havia um consenso entre a anterior direcção do seu partido e o MpD, na oposição, manifestou sempre a sua oposição a vários aspectos da lei.
Agora, afirmou que os partidos políticos devem tirar as suas ilações e, em resposta à acusação do líder da oposição, disse que Correia e Silva está à procura de um bode expiatório.
Por seu turno, o líder da bancada do PAICV, maioritária e que suporta o Governo, Felisberto Vieira, reiterou em conversa com a VOA que este pacote integra a reforma do parlamento, que vem sendo negociada entre os partidos desde 2003.
Embora mantenha a sua posição, Vieira diz esperar pela decisão do Presidente da República.
Há que ouvir o povo que colocou em causa os consensos conseguidos até agora entre os partidos, segundo o primeiro-ministro em declarações hoje à RCV.
José Maria Neves apoia o estatuto, mas diz que muita coisa mudou com as manifestações.
Agora, o país aguarda pela decisão do Presidente da República que pode vetar ou não a lei. Em Portugal, onde se encontra de visita, Jorge Carlos Fonseca avisou que quando receber o documento irá pronunciar-se de acordo com os interesses nacionais.