Organizações ambientais moçambicanas vão se juntar à população na recusa de plantações industriais de monoculturas como eucaliptos e pinheiros, que empobrecem as comunidades.
A posição foi tomada hoje na conferência "Como resistir às plantações de monocultura?”, realizada no âmbito do dia internacional de luta contra as plantações industriais de árvores, que hoje se assinala.
Na conferência, que decorre no formato híbrido, participam organizações ambientais e sociais de Moçambique, Tanzânia e Brasil, largamente afectados por plantações industriais de eucaliptos e pinheiros.
A prática já prejudicou camponeses de Manica, no centro do país, que se consideram “seduzidos e abandonados”, após o plantio de eucaliptos e pinheiros, sob a promessa de desenvolvimento, combate à pobreza e empregos, que nunca chegou a acontecer.
“A minha comunidade ficou mais pobre, porque as plantações de eucaliptos fazem sombra às nossas machambas de milho e mapira, definhando as plantas, e a água está a tornar-se cada vez mais escassa, porque essas plantações industriais sugam muita quantidade” disse à VOA Cade Augusto, morador de Amatongas, em Manica.
Sustento
O camponês que participou na conferencia internacional voltou a fazer ecoar denúncias de usurpação e desgaste de terras por grandes companhias, além de ameaças aos que resistem às plantações, nas províncias de Niassa, Nampula, Zambézia, Manica e Sofala, norte e centro de Moçambique.
As províncias moçambicanas tiveram milhares de hectares de terra cedidas às empresas Portucel, Green Resources e Mozambique Holdings, que são acusadas pelas populações de “abocanhar” campos de cultivos para plantações industriais de árvores para produção de papel.
Mãe de cinco filhos, Marta Bengala, disse que a família ficou mais pobre e sem a sua fonte de subsistência, quando a sua machamba foi ocupada com plantações de eucalipto em 2013 e foi transferida para um campo de cultivo infértil, quase 30 quilómetros da sua residência.
“As plantações de eucalipto já atingiram a nova machamba e devo ser transferida novamente para um outro lugar, no distrito de Muanza, quase 50 quilómetros mais longe. Como vou produzir e me sustentar?” questiona a camponesa que pede uma intervenção das autoridades.
Carta aberta
O activista social, Perito Alper, da Acção Académica para o Desenvolvimento Rural (ADECRU), que liderou a conferência, disse que as comunidades precisam de instrumentos legais para resistir às plantações.
Uma carta aberta, assinada por 730 membros de comunidades moçambicanas e 120 organizações de 47 países, incluindo Moçambique, e tornada pública na semana passada, exige a suspensão de planos de expansão de plantações industriais de eucaliptos e pinheiros no Sul global, em especial na África.
A carta alerta para “o perigo real de uma expansão gigantesca de monoculturas de árvores no mundo”, sob o falso pretexto de ‘reflorestamento’, denunciando um relatório produzido em 2019 pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e a WWF-Quénia que identifica uma área de 500 mil hectares em 10 países africanos aptas para o plantio de monoculturas de árvores por empresas privadas.