O plano de transformação da Ilha do Mussulo em local de interesse turístico de referência inclui iniciativas que visam modernizar e ampliar as infraestruturas da península localizada em Luanda.
A construção de resorts, hotéis de alto padrão, áreas de lazer, além de melhorar o sector de transporte marítimo, bem como a sua oferta e segurança, melhora a distribuição de energia eléctrica, o abastecimento de água potável e saneamento.
Angola possui inúmeros espaços, paisagens naturais e recursos culturais que podem ser aproveitados para turismo, mas nisto tudo o mais importante consiste na transformação das potencialidades em recursos através da criação de condições para que as pessoas tenham acesso, visitem e se instalem, afirma Bumba Castro, PhD em Turismo, Lazer e Cultura.
O académico enumera os atractivos e potencialidades turísticas que o país possui, mas que do ponto de vista prático não têm actividades turísticas reais.
“Alguns do ponto de vista de conceitos não chegam a ser atractivos, porque implica ter serviços, ter já alguma actividade turística, retenção, alimentação e em muitos casos alojamento, mas maioria dos sítios turísticos do nosso país não são assim. É só olhar para as sete maravilhas, por exemplo (o Morro do Moco no Huambo, a Tundavala na Huíla, a Floresta do Mayombe em Cabinda, as Grutas do Nzenzo no Zaire) são potencialidades turísticas naturais, mas que não têm actividades turísticas reais”, disse.
Questionado sobre as potencialidades turísticos da capital angolana, bem como o seu aproveitamento socioeconómico o também professor auxiliar da Universidade Agostinho Neto afirmou que “os recursos existem e na maioria dos casos não tão numerosos, mas é preciso haver criatividade de quem opera no sector”. A criatividade, de acordo com o especialista, passa também pela criação de roteiros para orientar os turistas.
“No centro de Luanda pode se fazer turismo cultural, turismo patrimonial visitando os edifícios históricos da escravatura na baixa. Mas a volta da cidade ou já confluência das fronteiras com as outras províncias dá para fazer um turismo mais virado para a natureza. Em Luanda, na sua periferia, faz-se o turismo de sol e mar. Como se vê, o turismo depende muito do que os produtores e operadores do sector do turismo e intermediários oferecem aos turistas”, considerou.
Com uma extensão de 30 km de cumprimento e 3 de largura, a Ilha do Mussulo, localizada num espaço geográfico privilegiado, a oeste de Luanda, banhada pelo Oceano Atlântico, possui paisagens paradisíacas, praias de águas mornas, na costa e na contra-costa, e um ambiente natural único, a ilha do Mussulo é vista como um destino turístico ainda pouco explorado tanto por cidadãos nacionais como estrangeiros.
Contudo, o seu meio ambiente tem sido constantemente agredido pelas construções definitivas, entre rústicas e luxuosas, que de modo desordenado, de tempo em tempo, vão cobrindo com betão e azulejo as grandes quantidades de areia branca, os adornos naturais daquele lugar considerado pelos seus moradores como de uma tradição e cultura única.
As infraestruturas de betão ali erguidas dividem-se entre resorts, restaurantes, residenciais e mansões turísticas luxuosas que atrapalham o habitat natural de várias espécies marinhas e vegetais, deixando o mar sufocado e entupido de resíduos.
O Governo, no seu projecto de transformação da Ilha do Mussulo, prevê construir infraestruturas físicas turísticas diversas, assim como promover a cultura angolana dando a oportunidade aos turistas de viverem diversas experiências turísticas e culturais autênticas.
Valorizar a identidade cultural do país é outra faceta deste projecto mas que deve acautelar os riscos estruturais e ambientais como chama atenção o engenheiro de construção civil, António Cambundo, para quem é necessário que hajam planos e regulamentações adequadas para garantir e prevenir a integridade ambiental do espaço.
“Não obstante a toda esta importância que isto representa a transformação é preciso acautelar determinados riscos estruturais e ambientais que tal intervenção pode criar, como a alteração da topografia. Pode afectar a drenagem natural e causar instabilidade do solo”, esclareceu o engenheiro para quem, por outro lado, aponta a alteração do ecossistema das várias espécies como outro risco resultante da transformação da ilha em potencialidade turística.
“Existe também o risco de alteração do ecossistema marinho e a perda da biodiversidade. Falando da biodiversidade dos ecossistemas, a construção pode levar à destruição de habitats naturais de espécies. Portanto, é preciso que haja um planeamento sustentado e regulamentações adequadas para mitigar, para garantir que a requalificação não venha comprometer a integridade ambiental e cultural, portanto desta ilha”.
Para além dos já mencionados, há também o risco de haver erosão costeira, poluição ambiental e marinha, perda da biodiversidade, pressão sobre os recursos naturais e vulnerabilidade climática, como alertou o técnico superior de construção civil, Henrikson Samuel.
“A península do Mussulo é formada por bancos de areia que são naturalmente vulneráveis a erosão costeira e o avanço do mar”, começou por dizer o especialista para quem “muitas vezes as obras de grande porte podem agravar este processo, colocando em risco a integridade da península. Na questão dos impactos, a degradação ambiental pode comprometer o apelo turístico da região e prejudicar o ecossistema local, incluindo manguezais e as espécies marinhas. Mas, de certeza que o Governo e as ordens dos engenheiros conseguirão precaver estes riscos à península”.
A falta de planeamento urbano e sustentado pode acarrectar para ilha muitos outros riscos, entre os quais o desenvolvimento turístico desordenado com consequência para ocupação inadequada do solo, segundo o especialista.
“A construção das infraestruturas, sem considerar os limites naturais da península, gera um impacto, criando o congestionamento e a poluição visual e há possível degradação das áreas de interesses turístico, onde os principais impactos incluem a erosão e alteração de habitat natural das espécies da poluição hídrica e contaminação, a sobre-exploração dos recursos naturais, a fragmentação d e ecossistema e a perturbação da vida selvagem com realce para perda de manguezais”, disse.
A população local da Ilha do Mussulo será directamente beneficiada pelo projecto. Programas de capacitação em hotelaria, turismo e artesanato serão desenvolvidos para garantir que os moradores participem activamente do desenvolvimento da região.
O governo angolano estima que a transformação do Mussulo pode gerar milhares de empregos directos e indirectos, além de aumentar significativamente as receitas provenientes do turismo e contribuir para diversificação da economia.
A integração da comunidade é essencial para garantir que os benefícios económicos do turismo sejam distribuídos de forma justa e a preservação ambiental seja mantida para além, de abrir as portas para capacitação da força de trabalho proveniente da comunidade local nas áreas de hotelaria e turismo.
“Isto ajuda na inclusão da comunidade, já que em planeamento urbano, a comunidade deve fazer parte dos processos de tomada de decisão”, considerou o especialista em Construção Civil Henrikson Samuel.
O país precisa ter noção de que os recursos turísticos não são apenas turísticos,mas também atividades multissectoriais, pelo que, se deve ter uma abordagem transversal que depende também de outros sectores, afirmou Bumba Castro, o professor auxiliar da Universidade Agostinho Neto.
“O cidadão deve perceber (...) a educação é fundamental. O turismo tem também um papel fundamental para a conservação dos bens não são turísticos, como disse o turismo usa os bens de outras atividades de outros sectores. Mas, a utilização turística ajuda bastante na conservação por causa da visita por causa dos rendimentos”. Defendeu o académico para quem o desenvolvimento do turismo precisa de investimentos sérios.
“O turismo para se desenvolver precisa de investimentos. Investimentos sérios e racionais, a nível público e privado. Inicialmente esses investimentos que garantem de facto o suporte da atividade turística são nas infraestruturas. Muitos bens naturais e culturais do país não têm relevância que deviam ter e um dos problemas é precisamente a falta de infraestruturas”, disse o professor universitário.
“Não é possível ativar um bem natural ou cultural fora de uma localidade se não haver acesso, se não chegar a energia elétrica, se não tiver água canalizada. Portanto, os investimentos devem começar por ser feitos a montante”, esclareceu.
A transformação da Ilha do Mussulo em potencialidade turística é uma oportunidade para promoção de práticas de construção sustentável em locais ecologicamente sensíveis, dai que especialistas são chamados a contribuir com o seu saber técnico. O objetivo é garantir a preservação do meio ambiente, a qualidade de vida dos habitantes do Mussulo.
“Assim acaba-se por preservar o meio ambiente e promover a qualidade de vida para os moradores e turistas. Isto vai desde o planeamento do projeto, a integração da comunidade com o meio ambiente, desde o planeamento das infraestruturas de saneamento e recursos, o planeamento urbano e uso dos solos, a conscientização e educação ambiental da comunidade local, a avaliação e monitoramento e o impacto ambiental”. Tudo isto vai garantir um futuro mias equilibrado para a Ilha do Mussulo, tanto para a atual comunidade como para as gerações futuras.
O objetivo do Governo em transformar a Ilha do Mussulo em potencialidade turística é criar uma experiência turística de classe mundial, capaz de competir com outros destinos de renome internacional. Mas, especialistas alertam para os cuidados necessários com o ambiente na transformação deste local, que acolhe centenas de moradores, e para a valorização de outras potencialidades turísticas do país.
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