O partido do Presidente Vladimir Putin, Rússia Unida, deve manter a maioria dos 450 deputados no Parlamento no final das eleições de três dias que terminam neste domingo, 19, e às quais os principais críticos do Kremlin foram impedidos de concorrer.
As eleições locais e legislativas, que arrancaram na sexta-feira, 17, seguem-se a uma repressão sem precedentes contra opositores de Putin, entre eles o seu principal adversário, Alexei Navalny, preso desde Janeiro e cujas organizações foram eliminadas sob a acusação de serem “extremistas”
Outros conhecidos opositores foram presos ou fugiram do país e todas as pessoas associadas aos respectivos grupos ou partidos foram impedidas de concorrer nas eleições.
As urnas encerram às 20 horas locais, mas desde sexta-feira têm-se sucedido informações nas redes sociais que a votação tem sido marcada por acusações de censura e aumento excessivo de votos.
Na sexta-feira, a Apple e o Google removeram a aplicação "Votação Inteligente", do líder opositor Alexei Navalny, que sugeria aos eleitores os candidatos em que deviam apoiar para derrubar políticos alinhados ao Kremlin, uma decisão que provocou muita revolta nas redes sociais.
Chantagens a empresas de redes sociais
Fontes bem informadas disseram à AFP que a medida foi tomada sob pressão das autoridades russas, incluindo ameaças de prender os trabalhadores daqueles dois gigantes da tecnologia no país.
No mesmo dia, o popular Telegram também removeu a mesma aplicação e hoje o You Tube viu bloqueados os vídeos dos candidatos da oposição.
Aliados de Navalny disseram que o Google cumpriu as exigências feitas pelo regulador da imprensa, Roskomnadzor, e o opositor Leonid Volkov acusou aquelas empresas americanas de terem"cedido à chantagem do Kremlin".
A Comissão Eleitoral informou que no período da manhã 35 por cento dos eleitores tinham votado.
As redes sociais foram inundadas hoje por fotos com soldados a patrulhar as assembleias de voto.
"Ameaça" à maioria da Rússia Unida
O monitor eleitoral independente Golos, rotulado pelas autoridades de "agente estrangeiro", revelou ter rastreado mais de 3.700 denúncias de violação de votos.
Entretanto, a presidente da Comissão Eleitoral, Ella Pamfilova, disse que o órgão recebeu apenas 137 denúncias de "coerção" de votação e confirmou oito casos de enchimento de urnas, o que levou à demissão de três presidentes de mesa.
Antes do início das eleições, pesquisas daVTsIOM, instituto do Estado, mostraram que menos de 30% dos russos pretendiam votar no partido Rússia Unida, uma queda de pelo menos 10 pontos percentuais em relação a 2016.
Analistas admitem que o partido do Presidente Vladimir Putin corre o risco de perder a sua maioria absoluta na Duma, de 75 por cento, que lhe dá poderes abrangentes, incluindo o de mudar a Constituição, como aconteceu no ano passado e que agora permite que Putin concorra a mais dois mandatos após 2024.
Observadores admitem que o Partido Comunista, a segunda força política, pode, no entanto, ameaçar a maioria do partido de Putin, caso os apoiantes de Navalny votem massivamente nos comunistas, como única alternativa ao Presidente que dirige a Rússia há mais de 20 anos.