O Papa Francisco criticou os órgãos financeiros internacionais e o uso indiscriminado do planeta que prejudica a natureza e os mais pobres durante o seu discurso, nesta sexta-feira, 25, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU, em Nova Iorque.
O discurso foi presenciado por diversos líderes mundiais, incluindo a presidente brasileira, Dilma Rousseff, e o primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves. A presença do Papa marca a celebração dos 70 anos da Assembleia Geral e fez o seu discurso em espanhol.
"Os organismos financeiros internacionais devem velar pelo desenvolvimento sustentável dos países e não à submissão asfixiante destes por sistemas de crédito que, longe de promover o progresso, submetem as populações a mecanismos de maior pobreza, exclusão e dependência", afirmou o pontífice.
"Nenhum ser humano, indivíduo ou grupo pode se considerar omnipotente e autorizado a passar por cima do direito dos outros", disse.
Ele ainda condenou a “má gestão irresponsável da economia global,” que não pode ser guiada pela “ambição de riqueza e poder”.
Na sua inervenção clamou por “conceder a todos os países, sem excepção”, uma participação e incidência real e equitativa nas decisões desses órgãos, no Conselho de Segurança da ONU e em mecanismos criados para afrontar as crises económicas.
A exclusão económica e social é uma grave ofensa aos direitos humanos e ao ambiente, considerou Francisco que condenou a “colonização ideológica” de países ricos que tentam impor os seus “modelos de estilo de vida anómalos” a países em desenvolvimento.
Tal como fez em Washington, o Papa Francisco também abordou o aquecimento global e as mudanças climáticas, e afirmou que a “sede de poder e propriedade material sem limites” tem delapidado o que Deus fez.
Para o líder da Igreja Católica, esta atitude “prejudica o meio ambiente e os mais pobres.”
"Os mais pobres são os que mais sofrem, são descartados pela sociedade", acusou Francisco, para quem a crise ecológica e a destruição da biodiversidade ameaçam “a própria existência da espécie humana”. "
Nas Nações Unidas, Francisco disse que se deve continuar incansavelmente a tarefa de evitar a guerra entre nações e a guerra entre pessoas.
Para isso, “deve haver o primado do direito e da negociação”.
"Quando a Carta das Nações Unidas é respeitada e seguida, resultados pacíficos são obtidos", disse o Papa Francisco na ONU.
O pontífice voltou a referir a "dolorosa situação" no Médio Oriente, norte da África e de outros países africanos, como o Sudão do Sul, em que os cristãos são perseguidos e têm seus locais de culto destruídos.
Numa referência indirecta ao Estado Islâmico, ele criticou a perseguição de minorias religiosas e a destruição do património cultural.
O Papa também falou sobre o recente acordo enre o Irão e seis potência mundiais, ao considerá-lo “uma prova das possibilidades da boa vontade política e do direito, exercidos com sinceridade, paciência e constância".
"Gostaria de fazer menção a outro tipo de conflito que nem sempre é tão explicitado, mas que silenciosamente vem cobrando a vida de milhões de pessoas”, referindo-se ao narcotráfico.
“Uma guerra assumida e pobremente combatida", lamentou.
Em relação à homossexualidade, o Papa pediu o reconhecimento de uma "lei moral inscrita na própria natureza humana, que compreende a distinção natural entre homem e mulher".
Na linha do que disse no Congresso americano, numa alusão ao casamento entre pessoas de mesmo sexo, Francisco alertou contra "a colonização ideológica através da imposição de modelos e estilos de vida que são estranhos à identidade das pessoas e, portanto, irresponsáveis".
Antes do seu discurso oficial, o Papa reuniu-se com o Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e fez uma declaração para os funcionários ONU, na qual afirmou estar preocupado com o futuro do mundo e como ele será deixado para as próximas gerações, além de agradecer o seu trabalho.