O Governo de Portugal reforçou o apelo ao investimento na agricultura em Angola, num dos pontos altos do último fórum empresarial entre os dois países, realizado na última semana em Benguela, província que emite sinais de que a falta de ordenamento territorial, água e energia inviabilizam o agro-negócio.
As autoridades angolanas acenam com 30 milhões de hectares de terrenos sem exploração, mas a realidade, com milhares de fazendas abandonadas e inexistência de serviços em importantes vales, continuam a gerar alertas de quem movimenta os campos de produção.
Orador do fórum empresarial Angola/Portugal, o terceiro em seis meses, o presidente da Federação das Associações Agro-pecuárias de Benguela, Manuel Monteiro, vem alertando para cenários de desordem e carência nos principais vales agrícolas, incluindo o Cavaco, de onde saía a banana exportada para Portugal.
‘’Nos vales da Catumbela, Dombe Grande e Cavaco temos muitos constrangimentos. Falamos da degradação dos solos, devido ao aumento dos níveis de sal, para o primeiro, os acessos não estão em condições e há um grande problema de energia eléctrica’’, enumera Monteiro, membro do Conselho da República.
Do litoral para o interior da província, onde se encontra a maior parte das mais de duas mil fazendas confiscadas pelo Estado há 40 anos, hoje à espera de investimentos, a viagem descortina focos de conflitos entre empresários e famílias camponesas.
Detentor de dois mil hectares no Cubal, o empresário Víctor Alves diz que situações como a que vive podem afugentar o investimento estrangeiro.
‘’A população, que também tem direitos, deve ser acarinhada, reunida em cooperativas à espera que se faça o ordenamento do território. Caso contrário, vamos acabar envergonhados nesses esforços para chamar os estrangeiros’’, salienta o fazendeiro.
No fórum empresarial, encerrado pelo presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, o ministro-adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira, que destacou o aumento de 1000 para mil e 500 milhões de euros da linha de crédito para Angola, sublinhou a importância do sector alimentar.
‘’Estamos também a falar da capacidade de concretizarmos, a curto prazo, a celebração de um acordo para protecção recíproca de investimentos. Isto cria confiança ao investidor. Portanto, destacamos os sectores da agricultura, agro-negócio e a agro-indústria’’, anunciou o governante luso.
Angola, que explora apenas cinco milhões de hectares do total da área agricultável, considera insuficientes os quatro projectos portugueses no domínio do agro-negócio.
Confrontado com as insuficiências, o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural prometeu medidas conducentes à melhoria do ambiente de negócios.