O futuro reside em cada dia que temos à nossa frente, mas também nas soluções que tomamos e que tornamos possíveis em cada um desses dias, disse o Presidente de Cabo Verde na Assembleia Geral das Nações Unidas, onde fez uma forte defesa do multilateralismo e dos pequenos países insulares em desenvolvimento.
A defesa do património dos países africanos e a defesa do movimento mundial de candidatura da crioulização e das culturas crioulas a Património Mundial foram referidas por José Maria Neves nesta quarta-feira, 21, em Nova Iorque.
“Nós, os pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, queremos também libertar-nos da dependência do apoio externo, que passará, necessariamente, pela redução das nossas vulnerabilidades, ao mesmo tempo que estamos conscientes do dever de fazer o nosso trabalho de casa, de ser competitivos e resilientes e de conseguir um crescimento inclusivo e ambientalmente sustentável”, disse Neves quem reiterou a ambição seu país de “se tornar num Pequeno Estado Insular Desenvolvido".
Mas para que tal aconteça, o arquipélago crioulo, da mesma forma que os demais, terá superar as suas vulnerabilidades e aumentar as suas resiliências, e, nesse aspecto, Neves disse ser “imperativo poder contar com a solidariedade externa em matéria de financiamento e endividamento sustentáveis, sempre num processo e numa lógica de diminuição paulatina da necessidade de apoio externo”.
Proteger o património africano
O Presidente de Cabo Verde que fez hoje o seu primeiro discurso ante os líderes mundiais nessa qualidade, já o tinha feito noutras oportunidades como primeiro-ministro, colocou tónica também na defesa do património cultural e natural, material e imaterial de África que desde 2015 tem sido celebrado em todo o mundo para consciencializar e sensibilizar sobre a importância da sua preservação.
Mas neste “domínio, continuam a existir preocupações quanto às urgências e às medidas a serem tomadas”, alertou José Maria Neves, que propos-se “contando com os meus pares africanos, investir na Preservação do Património Natural e Cultural de toda a África, e reflectir sobre como promover a justiça climática e a equidade em África e para África”.
Para ele “trata-se de procurar chegar a um consenso sobre uma noção mais flexível e menos abstrata de equidade climática que coloca no centro do debate público e global as responsabilidades comuns, mas diferenciadas, e criar uma plataforma comum para África com vista à transferência de responsabilidades numa base intergeracional”.
O Chefe de Estado cabo-verdiano aproveitou a ocasião para se referir ao movimento mundial de candidatura da crioulização e das culturas crioulas a Património Mundial, “pelo qual aceitei ser padrinho e porta voz, não fosse Cabo Verde, a primeira sociedade crioula do mundo”.
Esta é uma iniciativa liderada pela sociedade civil, que, segundo José Maria Neves, pretende que os países crioulos possam se posicionar, a uma só voz, sobre o seu património imaterial, promovendo a paz, a amizade entre os povos e a cooperação para o desenvolvimento, com base nos valores que a crioulização trouxe para a civilização: um novo ethos assente na tolerância, na diversidade e na fusão de culturas.
Multilateralismo não tem acontecido no nível esperado
“Assim, apelamos a um forte apoio e engajamento político de personalidades de países crioulos e dos respectivos Chefes de Estado”, disse Neves.
O Presidente cabo-verdiano lembrou que a adopção da Agenda 2030 e dos seus Objectivos de Desenvolvimento foi um momento alto do multilateralismo e que a a sua implementação e realização progressivas, deveriam continuar a beneficiar do impulso de um multilateralismo cada vez mais renovado, revigorado e ancorado no Sistema das Nações Unidas.
“Tal não tem acontecido ao nível desejado nas várias frentes onde, infelizmente, permanecem desafios globais, ao mesmo tempo que têm surgido crises que se têm constituído em autênticos obstáculos ao progresso”, afirmou José Maria Neves, reiterando que Cabo Verde defende um “multilateralismo efectivo, inclusivo, preventivo, dissuasivo e cooperativo, que possa estabelecer ´um novo acordo global entre Estados´, assim como ´uma nova governança global´ do sistema internacional".
Com tantos desafios, José Maria Neves concluiu dizendo que “o futuro reside em cada dia que temos à nossa frente, mas também nas soluções que tomamos e que tornamos possíveis em cada um desses dias”.