Na véspera da comemoração do dia internacional de acção pela saúde da mulher, 28 de Maio, organizações de promoção de saúde na Guiné Bissau e Moçambique pedem mais investimento para combater a mutilação genital feminina e reduzir a mortalidade materna.
Em Moçambique, a Rede de Defesa dos Direitos Sexuais e Reprodutivos recorda que a taxa de mortalidade materna é uma das mais altas do mundo. No país, em 100 mil nascimentos vivos, 408 perdem a vida.
A rede, que congrega organizações como Fórum Mulher, Coalizão, Pathfinder, Amodefa e Monaso, reclama lacunas nos serviços de saúde: As unidades sanitárias ficam distantes, nem sempre as mulheres têm dinheiro e carecem de permissão para irem ao tratamento.
Preocupante é também a violência. Uma em cada três mulheres moçambicanas da faixa etária dos 15 aos 49 anos, indica a rede, relata ter sofrido violência sexual, e muitas vezes com parceiros íntimos.
Perante o cenário, a rede “insta o governo e todos os sectores da sociedade civil a investir mais na saúde das mulheres, respeitando os compromissos assumidos internacionalmente”.
“É necessário envidar mais esforços e garantir mais recursos, se quisermos melhorias substanciais a fim de ultrapassar estes problemas,” lê-se no comunicado da rede.
A médica Ivone Zilhão, que faz parte da rede, disse à VOA que as autoridades seguem os compromissos, “mas há falta de recursos e a provisão de serviços não é feita com a qualidade que se deseja.”
Zilhão disse ainda que é preciso investir na monitoria de serviços de saúde da mulher.
Esse é também um aspecto preocupante na Guiné-Bissau, onde a Rede Nacional de Luta contra a Violência Baseada no género e criança está preocupada com o progresso do combate à mutilação genital feminina.
A Presidente executiva desta rede, Assiatu Indjai, conta que há boas indicações na monitoria do trabalho feito nessa área, “mas é preciso incentivar a denúncia para punir os mentores e desencorajar a continuidade”.
Esta activista diz que a rede que preside tem contribuído com programas de educação para a mudança de atitudes em relação à saúde da mulher, mas “muitas vezes, a violência e a mutilação genital acontecem no circuito familiar e por causa de tabus é difícil denunciar”.
“Quem denuncia, protege-se a si mesmo,” sublinha Indjai.
Persistente em muitas comunidades, a mutilação genital feminina é uma prática tradicional que condiciona a liberdade sexual das mulheres até ao casamento, sendo em muitos casos negociada pela família.
A mutilação genital provoca a morte de muitas crianças e mulheres, devido a hemorragias ou infecções. As sobreviventes têm frequentemente traumas físicos e psicológicos
Indjai reconhece que a aprovação de leis contra a violência e mutilação na Guine Bissau contribuem para a igualdade de direitos entre os homens e as mulheres.