O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), em Moçambique, alerta para o risco de se criar uma situação de ingovernabilidade nos distritos afetados pelas ações dos insurgentes armados na província de Cabo Delgado, alguns dos quais, na sequência de ataques, ficam muito tempo sem a autoridade governamental.
"Toda a zona norte de Cabo Delgado é uma zona de guerra, e uma região em guerra é ingovernável. É o que se está a passar, neste momento, particularmente à volta de Mocímboa da Praia, que fica dias sem Governo. Claramente, vão se instalar ali zonas desgovernadas", disse o diretor do CDD, Adriano Nuvunga.
No seu entender, a solução passa por o Estado moçambicano mostrar "capacidade militar para repelir os insurgentes, dado que eles ainda não apresentaram a sua liderança para se estabelcer um diálogo.
"Aparece um grupo de insurgentes que ataca e exibe fotografias propagandísticas, mas nunca diz quem são os cabecilhas e o que pretendem, exactamente”, realçou Nuvunga.
Em recentes declarações à imprensa, o presidente do Conselho Municipal de Mocímboa da Praia, Carlos Momba, afirmou que numa das incursões os insurgentes ocuparam a vila durante três dias, interrompendo o funcionamento das instituições públicas e privadas e obrigando a fuga dos residentes locais.
O ministro da Defesa Nacional, Jaime Neto, disse que no recente ataque a Mocímboa da Praia, os insurgentes se infiltraram em diversos bairros da vila trajados a civil e denotavam ter recebido reforços de fora de Moçambique.
Entretanto, Adriano Nuvunga diz ser "um grande erro o Governo moçambicano não pedir ajuda militar internacional para fazer face à ameaça, porque só o facto de o Estado moçambicano estar a usar mercenários, é demonstração de falta de capacidade".
"A utilização de mercenários é uma opção inadequada para a situação, primeiro porque os próprios mercenários são uma solução de curto prazo, mas a médio prazo, criam problemas", considerou aquele responsável.
Para Nuvunga, "os mercenários custam muito dinheiro ao Estado moçambicano, que numa situação de boa governação, era suficiente para recrutar jovens moçambicanos para treiná-los e motivá-los, com pagamentos transparentes, para defenderem a sua pátria".
"A opção do Estado moçambicano de não usar a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral-SADC, e a União Africana, para utilizar mercários é completamente errada", concluiu Adriano Nuvunga.