Os recentes confrontos, entre as Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique e o grupo de insurgentes nos distritos a norte da província Cabo Delgado forçaram uma nova vaga de deslocados desde sábado, 18, com milhares a chegarem à costa de Pemba em embarcações artesanais.
Os deslocados também fogem à fome e à cólera que fustigam as zonas atingidas pelo conflito.
Estima-se que cerca de 35 embarcações atracaram na praia de Paquitequete, arredores de Pemba, provenientes das ilhas do Arquipélago das Quirimbas, bem como das aldeias de Mucojo, um importante entreposto comercial na costa de Cabo Delgado, onde foram registados intensos confrontos na semana passada.
“Estamos a fugir à guerra de al-shaabab. Decapitaram pessoas e queimaram a nossa aldeia”, disse à VOA Assane Malique ao chegar nesta terça-feira, 20, a Pemba, depois de ter permanecido vários dias escondidos numa ilha não distante da sua aldeia.
Sem casas, nem alimentos
Ele contou que depois de um ataque à sua aldeia partiu com a família para a Ilha de Matemo, de onde zarpou para Pemba no domingo, 19, mas agora fugiu também à fome, por falta de abastecimento na ilha, e da cólera, que voltou a se espalhar entre os deslocados.
“Na ilha nós não tínhamos alimentos e a situação piorou por causa da cólera, por isso fugimos também de lá”, conta o Malique, um chefe de família com 26 membros, incluindo três crianças recém-nascidas.
Outro deslocado, Ussufo Jamal, partiu da ilha Quirambo (distrito de Ibo), para Pemba, por recear que os novos confrontos, entre as forças estatais e os insurgentes que aterrorizam a província, se estendam para o seu esconderijo.
“Outra vez eu só tinha escapado com vida e os ataques pioraram na semana passada, e sem condições para continuarmos naquele lugar preferi fugir para Pemba, e nem sei onde ir daqui, porque não tenho parente que possa me receber”, desabou Ussufo Jamal.
Já Chabane Fundi explicou que vários deslocados que estavam em pequenas ilhas junto à costa de Cabo Delgado começaram a deixar os esconderijos devido ao pânico provocado por novos ataques de insurgentes, e confrontos entre estes e as forças estatais.
Na semana passada, o grupo de insurgentes, localmente conhecidos por al-shaabab, fez uma investida, sem sucesso, para capturar a sede distrital de Macomia, a mais importante vila mais a sul de Mocímboa da Praia, que continua sob controlo do grupo.
Uma contra-ofensiva das forças estatais forçou o grupo de insurgentes a recuar para a aldeia Ntapuala, cerca de 6 quilómetros de Macomia, onde decapitou duas pessoas no domingo, relataram à VOA várias fontes locais.
Em Awasse, um importante cruzamento de estradas para Mocímboa da Praia e Mueda, e onde os insurgentes mantinham uma posição, as forças estatais, com o apoio dos militares privados, realizaram durante o fim-de-semana uma operação de tentativa de recuperação da zona, adjacente a Mocímboa da Praia.
Um intenso confronto foi registado durante a resistência dos insurgentes, contaram à VOA fontes militares em Pemba.
Mais a sul de Awasse, em Cagembe (Quissanga), outras duas operações, por terra e por ar, visaram um acampamento dos insurgentes. Há relatos de muitas baixas por parte dos insurgentes.