Em tempo de pandemia do novo coronavírus, em que cerca de 20 por cento da população mundial está confinada às suas casas, as salas de teatro, os auditórios, as salas de cinema têm as portas fechadas.
A falta de arte ensombra ainda mais o ambiente no momento em que a morte visitou, em pouco mais de quatro meses, mais de 25 mil pessoas e mais de meio milhão encontram-se infetadas com o virus.
“Este é o Dia Mundial do Teatro mais triste das nossas vidas, da nossa geração e das gerações futuras”, afirma o encenador e produtor cultural João Branco, que, no entanto, diz ser hora da “união de todos, dos artistas, dos políticos, dos empresários, dos jornalistas, dos cidadãos, em defesa da vida”.
“Mas há uma mensagem de fé e esperança”, diz o conhecido homem de teatro de São Vicente, em Cabo Verde, onde, a partir das 21 horas locais (22 horas UTC) desta sexta-feira, 27, vai apresentar através da sua página no Facebook, a peça “As palavras de Jó”, de Matei Visniec, uma obra que não vem a calhar.
“O autor inspira-se na personagem bíblica de Jó, que sofre muito, enfrenta doenças, matam-lhe a família, mas ele mantém a sua fé em Deus, no caso do Jó do Matei Visniec a sua crença é no ser humano, a fé na humanidade, um texto muito pertinente para a situação que estamos a viver hoje”, explica Branco, quem apela a atitudes responsáveis de todos, seguindo as instruções das autoridades, mas mantendo“a fé e a esperança”.
Teatro, bom mensageiro
Neste dia, e com a pandemia como pano de fundo, “a decana do teatro moçambicano, Manuela Soeiro, considera que o “mundo corre para a morte se não parar, esta correria vai dar cabo da nossa existência”.
Numa mensagem aos ouvintes da VOA, no Dia Mundial do Teatro, a artista discerra sobre a correria desses tempos e diz que “as pessoas devem começar a refletir sobre o que se está a passar, como lidamos com o mundo, com a natureza”.
Manuela Soeiro apela à resiliência e ao fim da resignação, ao dar exemplo de pessoas com deficiências que “têm ultrapassado barreiras inimagináveis para vencer os seus desafios, enquanto os artistas param por falta de dinheiro, de salas, etc”,
Mas ela acredita que o “teatro é a melhor arma para transmitir as mensagens” de esperança.
Tal como João Branco, o músico moçambicano Stewart tem recorrido às redes sociais para manter o contato com a sua audiência e marcar uma presença positiva nesses tempos de confinamento.
A responsabilidade social dos artistas
“Estamos juntos em casa” é um projeto aberto a todos os músicos moçambicanos que queiram participar, explica Stwart que já tem uma longa tradição no uso das plafaformas digitais, “uma forma de manter a ligação com o público.
Durante esta semana, o projeto registou cerca de 10 mil visitas, “o que me surpreendeu”.
Stwart considera que todo o cuidado tem uma responsabilidade na sociedade, mas reconhece que “no caso dos artistas, dos músicos em particular, essa responsabilidade é acrescida porque chegamos a muitas pessoas com as nossas músicas”.
E remata que “em momentos como estes, o artista deve ser um voluntário para levar mensagens positivas e para denunciar fatos que periguem a vida das pessoas”.
Tal como João Branco, Stewart acredita que os artistas saberão levar “fé e esperança” durante e pós-coronavírus.
A conversa com Manuela Soeiro, João Branco e Stewart preenche a edição de hoje de Artes, na VOA.
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