O antigo Presidente sul-africano Jacob Zuma deve falar ainda neste domingo, 4, a centenas de apoiantes que se encontram acampados em frente à residência dele, na sua cidade natal, Nkandla, para impedir que a polícia o detenha, como admitiu o Tribunal Constitucional (TC) quando determinou uma sentença de 15 meses por desacato à justiça.
Na terça-feira, 29, o TC deu um prazo até este domingo para que o antigo Presidente se entregue livremente, o que, segundo a agência AFP, Zuma não pretende fazer.
"Não toquem em Zuma", é o grito de muitos apoiantes com bandeiras e trajados com as cores do Congresso Nacional Africano (ANC) partido que foi liderado por Jacob Zuma, um militante anti-apartheid, que viveu exilado em Moçambique.
Em declarações àquela agência, Lindokuhle Maphalala, um dos apoiantes, alertou que se a polícia "vier aqui prender Ubaba (o pai, em língua zulu), terá que começar por nós".
Ontem, sábado, Jacob Zuma apelou ao TC para anular a sentença que considera excessiva, com a defesa a referir-se ainda que a setenção poderá colocar a sua vida em risco na prisão devido à Covid-19.
O tribunal aceitou o recurso, mas não se pronunciou.
O Comité Executivo do ANC deve pronunciar-se ainda hoje sobre a situação.
Ao decidir sobre uma queixa do painel que investiga as acusações de corrupção contra Zuma, ao qual o antigo Presidente não compareceu várias vezes, a juiza Sisi Khampepe escreveu que “este tipo de recalcitrância e desafio é ilegal e será punido" e lembrou que a sentença foi por maioria de votos e não é suspensa.
"Não tenho outra opção a não ser mandar Zuma para a prisão, na esperança de que isso envie uma mensagem inequívoca ... o Estado de Direito e a administração da justiça prevalecem”, reiterou a juiza lembrando que Jacob Zuma, como ex-Chefe de Estado, estava ciente da lei, mas colocou-se "em flagrante violação" de uma ordem judicial.
O painel contra a corrupção presidido pelo juiz Raymond Zindo, encarregue de investigar as acusações, embateu-se sempre com a recusa de Zuma em comparecer às audiências, o que fez pela primeira vez apenas em Julho de 2019, antes de encenar uma greve e acusar o juiz Zondo de parcialidade.
O antigo Presidente enfrenta separadamente 16 acusações de fraude, suborno e extorsão relacionadas a uma compra em 1999 de caças, barcos de patrulha e equipamento militar de cinco empresas europeias de armamentos por 30 bilhões de rands, o equivalente, na altura,a quase cinco bilhões de dólares.
A maior parte do suborno investigado pela comissão envolve três irmãos de uma rica família de empresários indianos, os Guptas, que ganhou contratos lucrativos com o Governo.